domingo, 15 de agosto de 2010

A Scânia abandonada e os jeeps enterrados no Grafanil...

O pelotão do Parque-Auto, comandado pelo alferes Cruz (quarto, em cima, da esquerda para a direita, de bigode), seguiu na coluna de Carmona para Luanda. 1º. sargento Aires (o terceiro, de óculos) e furriel Morais (de óculos, quarto da 2º. fila, da direita para a esquerda). Entrada de Lucala (em baixo)


ANTÓNIO ALBANO CRUZ
Texto (continuação)

Já perto do Lucala, um camião Scânia, contratado a um civil e carregado com dois jeeps e o material e equipamentos de manutenção-auto, estava com problemas nos travões. Rapidamente os nossos mecânicos detectaram um tubo do circuito de travões inutilizado. Tentou-se tudo, mas não conseguimos resolver o problema. Colocado  ao nosso comandante, o tenente-coronel Almeida e Brito, via rádio, pois a coluna tinha vários quilómetros de comprimento, a ordem mais uma vez foi: «Salvem o que puderem e deixem ficar a viatura...».

O dono da Scânia estava desesperado e implorava por Deus que o deixássemos continuar, pois avançaria com todo o cuidado e, em Salazar (Dalatando), que já não estava longe, haveria de encontrar alguém que lhe resolvesse o problema. A Scânia era o bem mais precioso que lhe restava e ainda acalentava a esperança de, com ela, chegar à Africa do Sul. Permitimos que continuasse no fim da coluna, devagar e com muito cuidado mas, passados 5 ou 10 quilómetros não consegiu segurá-la e a Scânia caiu numa valeta. Aí, já não havia tempo a perder e tivemos que a deixar.
Ao chegar a Luanda (Grafanil), tivemos de fazer os autos de extravio dos jeeps e alguns equipamentos e como se isso não bastasse - só quem os fazia sabia o que custava... - passados alguns dias recebemos uma mensagem do batalhão de Salazar a dizer que tinham lá dois jeeps e que os fossemos buscar. Tentámos esquecer a mensagem pois os jeeps já não faziam parte do nosso inventário, mas passados uns dias lá estavam eles no Grafanil.
No meio de toda a confusão gerada com o aproximar da partida e da independência, o mais fácil era fazer desaparecer os jeeps - que acabaram por ser enterrados.
Recordo ainda que, a meio da viagem e sob tensão e muita expectativa, o nosso Comandante recorreu a Daniel Chipenda para podermos continuar em segurança. Recordo que fiz a viagem num Land Rover, que pertencia à PIDE/DGS de Carmona, e que nas duas noites de viagem, foi debaixo dele que descansei.
A. A. CRUZ
Alferes Miliciano
(continua)

Sem comentários: