quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A insegurança nossa de cada dia...

Praça de Touros de Luanda, em foto aérea de 2004 (tirada da net)

Os dias de Agosto de 1975, na Luanda que fervia em vésperas de se tornar capital de um novo país, foram vividos entre a intranquilidade e receio de um incidente que poderia ocorrer a cada momento e a vida flautiada de quem, para além dos serviços de rotina, não tinha actividade operacional. A não ser alguma «urgência». Mas todos os dias eram dias de mais histórias e dramas pessoais e familiares. Principalmente entre a comunidade civil.
Os Cavaleiros do Norte eram especialmente recomendados no sentido de se movimentarem em grupos e sempre indicando (na unidade) para que zona da cidade se deslocariam. Lá seriam procurados, em caso de desaparecimento. O que felizmente nunca aconteceu.
Por estes dias, recebi um apelo de minha mãe: «Ninguém sabe da Cecília e da família. Vê lá se os descobres...». A Cecília morava em Nova Lisboa, a mais de 500 quilómetros, e minha mãe, seguramente, não tinha noção das distâncias. Tentei contactar Cecília pelo telefone do Hotel Bimbe (que era dela e do marido), mas nunca ninguém atendeu. Supus o pior e ocorreu-me a minha conversa com eles, em Abril (ver AQUI).
Procurei-os horas e dias seguidos, no aeroporto de Luanda - onde se juntava milhares e milhares de pessoas - os retornados... - na esperança de os localizar. Até anúncio de rádio fiz! Nunca tal consegui... e só vim a encontrá-los já na nossa terra natal, em Setembro de 1975.
Luanda fervilhava de boatos e falava-se em massacres permanentes, na praça de toiros. E não era rara a vez que os «stops» nos incomodavam entre a cidade e o Grafanil e este e Viana - onde eu, o Neto e o Monteiro estávamos domiciliados. Era sempre o Neto, mais afoito que eu, quem «enfrentava» a «turba» - às vezes com excessiva e perigosa generosidade.
Rajadas (principalmente de noite), rebentamento de granadas, morteiros e outro material militar tornaram-se parceiros do dia-a-dia. A pouco tempo antes segura e pacífica Luanda tornou-se uma espécie de lotaria de guerra. Insegura, crescentemente violenta e grávida de medos! A cada segundo, tudo poderia acontecer. 
- RÁDIO. A Emissora Oficial de Angola tinha, ao tempo, um programa diário (e repetido), no qual se procuravam pessoas de quem se tinha perdido o contacto.

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