sábado, 14 de agosto de 2010

Paiol a arder e rebentamentos contínuos em Carmona

Alferes Cruz (1º. plano) e furriéis milicianos Viegas e Machado


ANTÓNIO ALBANO CRUZ
Texto

A coluna militar saiu de Carmona para Luanda no dia 4 de Agosto de 1975, fez agora 35 anos.Os dois dias e meio da viagem e os que os antecederam foram dias que não esqueceremos fácilmente.
Ao pelotão-auto, que praticamente integrou na totalidade a coluna, requeria-se alguma responsabilidade quanto aos combustíveis e operacionalidade das viaturas que a integravam. Relativamente aos combustíveis e lubrificantes, era importante que não faltassem às viaturas militares mas havia que socorrer também as viaturas civis fretadas pelas nossas tropas e todas as civis ligeiras e pesadas que nos acompanhavam. Penso que fizemos tudo o que era possível para, até à ultima hora, satisfazer e consolar todos, não apenas relativamente aos combustíveis e transporte mas também a bens pessoais esquecidos - como o BI ou certificados de habilitações e outros documentos, ou umas simples fotografias de família, que os retornados não queriam nem por nada perder.
Era angustiante ver o desespero daqueles que, querendo salvar o mínimo imprescindível, se viam obrigados a deixar tudo, só porque lhes faltava segurança, transporte ou combustível.
Fui dos ultimos a sair de Carmona e recordo-me termos deixado a parada do quartel cheia de mobiliário e uma sala cheia de todo o tipo de armas empilhadas. Lembro-me ainda que quando já iamos a uns quilómetros de Carmona, ouvimos uns fortes estrondos e, olhando para trás, vimos o paiol de munições a arder e com rebentamentos contínuos.
Fiz a viagem praticamente na cauda da coluna, logo à frente da companhia de pára-quedistas que a fechava, e isso permitiu-me ver o que ficava para trás. E o que ficava para trás mexia connosco, a uns mais que outros, e recordo-me, por exemplo, de ver que, num acto de desespero e com granadas, se destruiu uma viatura e o que nela se encontrava.
“Se não podemos levar a Berliet, também não fica para eles …”, ouviu-se.
A. A. CRUZ
Alferes miliciano
(continua)

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