sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O 1º. sargento atingido a tiro pelas costas

Junta Governativa de Angola. Da esquerda para a direita: capitão de mar e guerra Leonel Cardoso, brigadeiro Altino de Magalhães, Almirante Rosa Coutinho, coronel piloto aviador Silva Cardoso (Alto Comissário de 2 de Janeiro a 2 de Agosto de 1075) e Major Emílio Silva (foto «A Vertingem da Descolonização», do General Gonçalves Ribeiro)

RODOLFO TOMÁS
Texto

Vamos lá ver como estão essas memórias. Quem se lembra do ambiente que se vivia em Luanda, quando os primeiros homens do BCAV. 8423 chegaram lá chegaram? A CCS e da 1ª. Companhia!?
Muitos militares portugueses que lá encontrámos andavam nas ruas da cidade armados e mais pareciam "Rambos". Granadas à cintura, mais facas de mato, e alguns, vi eu, com Walther´s.
Tudo isto porque no dia 26 ou 27 (!) de Julho, um 1º. sargento português foi atingido a tiro, pelas costas, por homens do MPLA.
Depois de um comunicado na rádio, lançado pelo Alto Comissário, exigindo a entrega dos responsáveis por tão hediondo acto, tal não veio a acontecer. Resultado: foi numa manhã de domingo, alguns dias antes de nós chegarmos a Luanda, que a tropa portuguesa arrasou o aquartelamento de Vila Alice, junto ao cinema Império. A honra estava salvaguardada, desta forma mostrou-se que as FA ainda mandavam no território.
Quem se lembra deste acontecimento?
RODOLFO TOMÁS
1º. cabo rádio-montador

A situação abordada pelo Rodolfo Tomás vem descrita numa entrevista concedida pelo General da Força Aérea Silva Cardoso, que era o Alto Comissário naquela data e se demitiu logo depois. Foi recolhida pelo jornalista Rui Oliveira e pode ser lida AQUI.
Transcrevemos a parte respeitante:


A desafronta de Vila Alice


P: Pode descrever o sucedido naquele caso de Vila Alice, com o MPLA ?
R: Esse acontecimento, altamente lamentável, teve lugar em fins de Julho de 1975. Certo dia dia, já tarde, um jeep das nossas Forças Armadas, transportando um sargento e respectivo condutor, foi interceptado e mandado parar por uma patrulha do MPLA. Depois de identificados, foram autorizados a prosseguir mas, logo que a viatura se pôs em marcha, o sargento foi alvejado pelas costas, tendo ficado gravemente ferido.
P: Não houve mortos ?
R: Não. Tive conhecimento desta ocorrência, já bastante tarde, creio que depois da meia-noite. Reuni, de imediato, a Comissão Coordenadora e os Comandantes Militares. Perante a gravidade da situação, foi decidido exigir, ao MPLA, a entrega do autor do disparo cobarde e traiçoeiro, para ser julgado, de acordo com a legislação em vigor. Deixei bem claro que a entrega teria de se processar, a bem ou a mal, às primeiras horas da manhã seguinte.
P: A quem confiou a execução dessa missão ?
R: Ao Brigadeiro Heitor Almendra, Comandante do COPLAD, militar da minha inteira confiança e que gozava de grande prestígio, não só no seio das nossas Forças Armadas, como entre os militares dos movimentos. Foi-lhe conferida toda a liberdade de acção para o cumprimento da missão, usando os meios e as modalidades que julgasse mais adequadas.
P: A Comissão Coordenadora concordou com essa acção ?
R: Nem abriram a boca. Compreende-se, num caso destes, em que os nossos militares foram alvejados pelas costas ... Alguém tinha a coragem de tomar uma atitude contra uma ordem destas ?
P: Qual foi a reacção do MPLA, a essa operação ?
R: Na altura, compreenderam mas, depois, vieram explorar o sucedido, como algo criminoso da minha parte.
P: Acusaram-no de ter dado a ordem de atirar sobre a sede do MPLA, em Vila Alice ?
R: Sim. Através da Comunicação Social e não só....

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