quarta-feira, 30 de junho de 2010

A revolta da Companhia do Liberato - 3

Parada e parque-auto do Quitexe. A primeira caserna, à esquerda, era a do Pelotão de Atiradores (PELREC). A seguir, a de sapadores, mecânicos e condutores. Ao fundo, na esquina da avenida, o edifício do comando do BCAV. 8423. A foto foi tirada do lado da capela


(fim)
O regresso ao Quitexe foi muito tranquilo e ainda hoje estou convencido que, na altura, nenhum de nós - então no melhor da nossa juventude, irreverência e generosidade... -, nenhum de nós se terá apercebido muito bem da gravidade da situação. Poderia ter sido uma mortandade.
Algures, perto da sanzala do Quimbinda (?), a coluna afrouxou a velocidade e foi nesse tempo que me lembro perguntar-me o Dionísio (?) se ainda ia «haver tiroteio...». Que «não, não vai haver...»,  lhe disse eu, pousando os olhos na serra do Quimbinda, como que a disfarçar alguma ansiedade e a querer vencer os meus constrangimentos da amarga e dramática hora que passávamos.
O Neto, sempre mais «acelerado» que eu, sempre mais generoso na sua partilha de emoções com os nossos companheiros de jornada, exibia a G3, deitando-a no ar com a mão direita. O Ezequiel segredou-me ao ouvido: «Já nos safámos...». O Botelho (o que será feito do Botelho?), que se fazia sempre herói da pequenas coisas de caserna e de conquistas lá por Lisboa, ia estranhamente de cabeça baixa. E eu a provocá-lo: «Então, herói?!!!!...». E ele,a  mastigar a saliva, sem uma palavra. Mais exuberante o Soares, tinha de ser... «Dávamos cabo deles!!!:.. Limpávamos-lhe o sebo...».
O Garcia, o nobre e valente alferes Garcia, sempre de olhar profundo, ia sei lá com que pensamentos.
Lá chegámos ao aquartelamento do Quitexe e estranhámos não ver soldados nas ruas da vila. Quase todos estavam na parada, ao parque-auto. Não porque ali fossem as casernas e o refeitório, que eram, mas porque nos esperavam.
«Fir-mee! Sentido! Om-broooooo arma!».
Garboso, ele mesmo puxando a G3 ao ombro direito, o alferes Garcia apresentou o PELREC ao comandante que saía do gabinete.
Os soldados destroçaram e foram às suas vidas. O sol vermelho de Angola punha-se acima da serra de lá longe e eu e o Neto caminhámos para a casa dos furriéis. Missão cumprida, sem feridos ou mortos a lamentar!
- DIONÍSIO. Dionísio Cândido Marques Baptista, soldado atirador de cavalaria. Mora no Seixal.
- BOTELHO. Jorge António Pinto Botelho, soldado atirador de cavalaria. Suponho que reside nos Açores.
- SOARES. Fernando Manuel Soares, 1º. cabo de reconhecimento e informação, integrado no PELREC. Mora no Laranjeiro.
- EZEQUIEL. Ezequiel Maria Silvestre, soldado de reconhecimento e informação, integrado no PELREC. Mora em Almada.

2 comentários:

Anónimo disse...

“Pois é. Já não vou escalpelizar nada. Ninguém melhor que o Viegas poderia narrar tão correcta e completamente o episódio da revolta do Liberato.
Eu já não me lembrava que ele, o Viegas, também tomou parte nessa operação de campanha. Parabéns pela narração.
É assim que neste blogue se vão apondo acontecimentos vividos por militares do BCAV. 8423, em Angola e que ficam a constituir sua história.

Tenente Luz

Unknown disse...

Camaradas amigos,Dionizio, Soares, Ezaquiel, gostava de poder conversr convosco sobre a situação que se passou no Liberato. Todos os meses estou no Laranjeiro, o meu nº tel-913543907. Obrigado pela vossa atenção.