sábado, 19 de junho de 2010

A mensagem de Marta Garcia


Alferes Garcia e Ribeiro, capitão Leal e Tenente Luz no Quitexe (1974)


A mensagem de Marta Garcia sensibilizou-me profundamente, como, concerteza, a todos aqueles que a ouviram, ou leram. Mas fiquei contente, ao mesmo tempo, por saber a vida do Garcia prolongada neste mundo, deixando a honrá-lo, tanto quanto merecia, esta descendência que rogo a Deus seja muito feliz.
Privei com o alferes Garcia no Quitexe e em Carmona, integrados na mesma Unidade. Era um rapaz alegre, divertido, generoso, sincero e disciplinado. Um “camaradão”.
Recordo o Garcia, quando nos deslocávamos, no centro da cidade de Carmona, numa viatura militar de caixa aberta (éramos para aí uma dúzia), a cantar, para exibição de voz, a “Grândola Vila Morena” (parece que o Comandante não terá gostado muito da brincadeira,  quando veio a saber...) e o Garcia cantava “umas” da sua terra, que nos faziam rir muito, a todos.
Recordo o Garcia à frente do seu grupo de combate a receber, com todo o aprumo, a “ordem de guerra” dada pelo Comandante, quando foi a revolta da Companhia de nativos da Fazenda Liberato.
Recordo o Garcia quando nos dizia, a mim e aos alferes de CCS, que esperava que provássemos o Vinho do Porto de Carrazeda, mesmo do pipo, em Pombal, a sua aldeia. Não quis o destino que tal viesse a acontecer.
Recordo o Garcia, com saudade, de todos os dias, no Quitexe e em Carmona.
Recordo ainda o Garcia, com gratidão, quando num domingo, já ele na Polícia Judiciária, passou pela Marinha Grande e foi à PSP local perguntar onde me poderia encontrar. Disseram-lhe que àquela hora, 11 horas e tal da manhã, eu deveria estar na missa das 11 (de facto os polícias conheciam-me todos bem).
Então, o Garcia pediu para me dizerem que ele havia passado por lá (Marinha Grande), em missão de serviço, e que deixava um abraço ao capitão Luz e que desculpasse porque o serviço não lhe permitia estar mais tempo. Já agora conto o resto: ainda nessa mesma missa, já no final, um polícia fardado entrou na Igreja, tocou-me nas costas e fez-me sinal para ir lá fora (naquele momento até pensei se tinha feito algum pecado…). E transmitiu-me a mensagem do Garcia.
Era mesmo assim o Garcia. De resto, todos os da CCS o conheceram bem.
Peço desculpa de me ter alongado mais um pouco, mas ao falar do Garcia não o sabia fazer doutro modo.
Que o Criador o tenha em bom lugar.
Um abraço à sua filha e neto.
Um abraço a todos.
ACÁCIO LUZ

- LUZ. Acácio Carreira da Luz, tenente do SGE e chefe de secretaria do BCAV. 8423, agora capitão, na situação de aposentado e residente na Marinha Grande. 
- MARTA. Marta Garcia Pracana, filha do (falecido ex-alferes) Garcia, professora universitária e residente em Vila Nova de Gaia. Ler a mensagem em http://cavaleirosdonorte.blogspot.com/2010/06/mensagem-de-marta-garcia.html
- NOTA: Da «ordem de guerra» aos revoltosos do Liberato, aqui virei falar um dia. Ainda sinto os cabelos em pé, de quando, na formatura, ouvimos a ordem do comandante Almeida e Brito. Ordem para não os deixar passar. E a espantosa serenidade do Garcia, na frente do pelotão. «Vamos...» disse ele, enquanto os nossos bravos «pelrec´s» subiam para as viaturas, a aperrar armas, a colocar dilagramas, a aprontar miras. E sentia-se confiança e coragem naquela ordem. Sentia-se determinação, bravura, generosidade, partilha solidária de um momento que poderia ser véspera de tragédia.  
«Não te sentes na serra das Meadas?!!!», ironizei-lhe eu, ainda no chão vermelho da avenida do Quitexe, referindo-me ao Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE), de Lamego. Disse aquilo para iludir os meus medos. Os nossos medos. Felizmente, não houve confrontação. Evitou-se uma tragédia.

1 comentário:

Marta Garcia Tracana disse...

Ler estas mensagens deixam-me sem palavras. Eternamente agradeço todo o carinho, atenção e dedicação À memória do Garcia.
Um abraço Marta Garcia Tracana