Hospital Provincial de Carmona (1975). Pelotão de Reconhecimento, Serviço e Informação (PELREC). Almeida é o primeiro ds esquerda, em cima. Vicente, na linha de baixo, é o primeiro do lado esquerdo. Depois, eu e o Francisco. Hipólito é o sexto.
Os dias mais sangrentos de Carmona, deixaram marcas pesadas e lavadas em sangue para o futuro de muita gente. Uma família civil foi reduzida a uma pessoa. Eram seis!!! O bombardeamento numa das ruas que dava para a zona industrial, num patético combate entre as forças beligerantes, esmagou cinco pessoas, debaixo da escada interior da residência.
Poupemos as palavras do drama. Quando chegámos ao hospital com os feridos do Montanha Pinto - ontem aqui falados... - foi-nos solicitado que fossemos à tal rua, onde se combatia de uma ponta para a outra, num estranho baile de morteiros que caíam e explodiam onde a sorte dava. A maior parte longe dos objectivos, metralhando e esfacelando telhados, casas civis e o que calhava.
Passámos pelo grupo do Rocha, que nos avisou do que se passava por aquele lado - vindo eles de uma qualquer missão. Íamos nós na nossa, já seriam duas para as três da tarde, esgalgados de fome. Recolheríamos os feridos, voltaríamos ao hospital e rezaríamos para que pudessemos dar uma saltada ao BC12.
Não foi fácil entrar na rua, mesmo nos irregulares momentos de tréguas do bombardeamento. Suspeitava o grupo que abordámos (não me lembro se da FNLA, se do MPLA, mas para o caso vale o mesmo!!!) que iríamos apoiar o outro (o inimigo) e dificultava a nossa passagem. Mas lá fomos!
A casa estava esvrentada, paredes no chão, móveis destruídos!! Como outras casas estariam!!! Ouvimos um breve gemido e acorremos à escada destruída, sob a qual se protegeram mãe, dois filhos e, creio, dois sobrinhos. Mortos!!! A senhora protegera-os com o corpo, mas a violência da deflagração destruira os degraus e o patamar de cimento da escada e ateara um pequeno incêndio que se pegou a tapetes e cortinados. Porém, facilmente controlado - com o engenho e rapidez de acção do Cordeiro, do Marcos, do Vicente, do Francisco e do Hipólito, e/ou outros, que improvisaram uma mangueira, já não sei como, e o apagaram.
Regressados ao hospital, demos a notícia ao familiar. Sem uma palavra, ele entendeu tudo. «Disse-lhe para não ir lá...». Mas ela foi. Foi morrer com os seus meninos!
Foi, seguramente, o momento para nós mais dramático dos nossos lutos de Carmona.
- ROCHA. Nélson dos Remédios da Silva Rocha, furriel miliciano de transmissões, de Valadares (Vila Nova de gaia), técnico de vendas.
- CORDEIRO. José Manuel de Jesus Cordeiro, o Savimbi, 1º. cabo atirador de cavalaria. Natural e residente em Porto de Mós.
- VICENTE: Jorge Luís Domingues Vicente, 1º. cabo atirador de cavalaria, de Vila Moreira (já falecido)
- MARCOS. João Manuel Lopes Marcos, soldado atirador de cavalaria, natural e residente em Pego (Abrantes).
- HIPÓLITO. Augusto de Sousa Hipólito, soldado atirador de cavalaria, natural de Vinhais, com residência em Lisboa e a trabalhar em França.
- FRANCISCO. Vitor José Ferreira Francisco, soldado atirador de cavalaria, natural e residente na Marinha Grande.
- OUTROS. Esta lista peca por defeito. Outros militares entraram nesta acção, mas não recordo os nomes. Lembro estes e, neles, todos os outros.
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