Quartel BC12, em Carmona. Torres de vigia do bloco principal. Ao meio, vê-se a porta d´armas
RODOLFO TOMÁS
TextoCarmona, 1 de Junho de 1975. Eram cerca de cinco e quinze da manhã, quando acordei com o barulho dos morteiros entre MPLA e FNLA.
Era domingo e nessa madrugada o "estufa" (Domingos) tinha ficado até tarde a cantar uns fadunchos, de Fernando Farinha, com as mãos nos bolsos, tal como era seu hábito.
Eu, muito zangado disse-lhes para se calarem e para me deixarem dormir. De repente, vi uns clarões muito intensos na noite do BC12. Tinha começado a guerra entre os dois partidos. Eu ia entrar de serviço, de cabo de dia, e ainda não eram cinco e trinta, quando já eu, o Emanuel e o Damião estávamos no posto de vigia do BC12, por cima da sala de operações.
Embora sendo horrível, era um «espectáculo», ver na escuridão da noite, o cruzamento de fogos, entre as partes em conflito.
Pouco depois, entrava eu de serviço. Assim aconteceu e o mais difícil foi a hora do meio dia, pois era preciso levar de comer ao edifício da ex-PIDE/DGS, bem no coração da cidade de Carmona. Mas, entre medos e valentias, lá conseguimos cumprir a nossa missão.
Mesmo com fogo cruzado e não sendo nós operacionais, nunca me senti tão protegido com uma Berliet e cerca de 20 homens armados, para levar uma panela de sopa e outra de comida a quem lá estava.
A nossa vida dava um grande filme.
- TOMÁS. Rodolfo Hernâni Tavares Tomás, 1º. cabo rádio-montador, residente em Lousada.
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