domingo, 20 de junho de 2010

Os dias que se sucederam aos incidentes de Carmona


A parada do BC12, em Carmona, recebeu  mais de um milhar de refugiados


A protecção dada aos populares de Carmona, recebendo-os no aquartelamento, foi muito mal entendida pela FNLA - a «vitoriosa» da guerra da cidade, frente ao MPLA.
O que concluíram os seus dirigentes é que as Forças Armadas Portuguesas protegiam o MPLA, acusando-nos disso e até ameaçando com represálias, nalguns casos. Tenho na memória o momento dramático de quando, estando eu de sargento de dia e a descansar na casa da guarda, um grupo de «fnla´s», com uma metralhadora instalada num Toyota amarelo, queria forçar a entrada no BC12.
O alarme foi dado pelo sentinela, o Dionísio..., amedrontado (pudera!!!...) na guarita em frente à porta d´armas, e imediatamente foi accionado o sistema de defesa, para evitar o pior. E o pior seria coisa simples como o resultado de um tiro ser dado, uma ordem mal dada, ou mal interpretada. Não se sabe o que aconteceria... Poderia ser uma chacina.
A protecção foi dada no quartel «a um milhar de refugiados», assim se lê no Livro da Unidade. Mas esta atitude solidária e humana, não teve entendimento da FNLA - que, cito o LU, a considerou «discricionária e partidária», disso resultando «um período seriamente preocupante para o BCAV».
A memória traz os dias de tensão que se seguiram após a violência dos combates na cidade. E as dúvidas que um grupo de furriéis milicianos foi pôr ao comandante Almeida e Brito, sobre como agir em caso de ataque directo às NT.  Os furriéis milicianos, nomeadamente os dos pelotões operacionais, eram a primeira «carne para canhão« que evoluía na cidade e no patrulhamento dos itinerários. E se alguém nos apontasse uma arma, nos atirasse uma granada, nos ameaçasse e quisesse amortalhar o corpo? Descansou-nos Almeida e Brito, valendo a verdade que não tanto como gostaríamos. Mas também é verdade que nos sentíamos mais fortes e menos desassossegados quando descemos as escadas do  gabinete do 1º. andar. Ainda bem que nada foi preciso fazer, para evitar mais mortes. Não foi preciso chegar a limites!!! Embora dias de difíceis se adivinhassem!
- DIONÍSIO. Dionísio Cândido Marques Baptista, soldado atirador de cavalaria, mora no Seixal.

1 comentário:

C. Silva disse...

Se esta parada pudesse falar muitas histórias teria para contar...