Escola de Aplicação Militar de Angola, em Nova Lisboa (anos 60). Em baixo, furriel Viegas de férias nesta cidade (em 1975), com madrinha Isolina Neves
A 19 de Abril de 1975, andava eu por Nova Lisboa em angolanas férias, desfrutando (com o Cruz, o furriel) do cosmopolitismo de uma cidade que Norton de Matos quis fazer capital de Portugal, e, pelos uíges da nossa tropa, repetiam-se incidentes entre militantes armados do MPLA e da FNLA.
Lá pelo planalto huambino, tudo, porém, parecia um paraíso e por um destes dias avantajei-me em petiscadela que meteu moelas e moambas, no bar-restaurante que o Lando tinha nas imediações do da Escola de Aplicação Militar de Angola e do RI21, ao Bairro de Santo António. E falou-se do movimento revolucionário que incendiava Portugal, das consequências da próxima independência de Angola e de como, nesse quadro, seria a vida dos portugueses - os brancos! Estranhamente, para mim, toda a gente tinha uma enorme confiança e nada de cultivar preocupações quanto ao futuro.
O sul de Angola, na verdade, estava livre de problemas, não havia guerra, que era «coisa lá dos gajos do norte» - da zona do café, do Uíge, nos Dembos, no Leste, embora o sangue já há muito regasse as ruas de Luanda e outras cidades. Eu mesmo vivi esse clima de paz sulista, nas viagens de milhares de quilómetros que se faziam sem necessidade de qualquer segurança - de Luanda à Gabela, a Nova Lisboa, ao Lobito, a Benguela, a Novo Redondo, Sá da Bandeira e Moçâmedes. Ou a Carmona, a Salazar.
Mas num destes meus dias de Nova Lisboa registaram-se os primeiros primeiros incidentes e uma turba de angolanos armou escaramuça na avenida da República, pertíssimo do Ruacaná - onde eu fui ao Cinema, com minha madrinha Isolina.E no bairro de Santo António, perto do RI 21 e da Escola Prática Militar de Nova Lisboa. Foram um «aviso» para o que se seguiria nos meses seguintes, pelos julhos e agostos fora, setembros e outubros de muitas dores, na guerra civil que arrasou a cidade e muitas outras.
- LANDO. Orlando Tavares Rino, conterrâneo que era comerciante em Nova Lisboa -no Bairro de Santo António. Reside e trabalha em Rio Grande (Brasil).
- ISOLINA. Maria Isolina Pinheiro das Neves, já falecida e ao tempo viúva de meu padrinho Arménio Pires Tavares, vítima de acidente no Dondo e sepultado no cemitério de Gabela (Angola).
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