sexta-feira, 8 de abril de 2011

A casa do capitão a arder...

Bandeira Portuguesa hasteada no Quitexe, na porta d´armas. O edifício, à direita, era o do comando e para trás ficavam as casernas, as oficinas e a parada


O içar da bandeira era, naturalmente e como nos restantes aquartelamentos, um acto diário lá para os lados do Comando militar do Quitexe. Ali, muitas tarefas já devidamente delineadas, eram transmitidas a todos os grupos e secções que compunham a CCS.
Não o digo com perfeito conhecimento de causa, até porque, valha a verdade, não terei constado das formaturas no Quitexe mais de duas ou três vezes. E só fui quando obrigado, como todo o pessoal das transmissões. Dizia-se que eram quase sempre momentos de alguma tensão, cada um a perguntar aos seus botões o que iria ser transmitido naquele dia. Além da saga de avisos, reparos e ameaças do nosso saudoso capitão e Comandante da CCS, temia-se sempre que mais alguma má novidade houvesse para transmitir – e más novidades não nos “faltavam” ultimamente.

Numa das últimas vezes que se reuniu toda a Companhia, não assisti por me encontrar de serviço, no posto de rádio. Estávamos quase em vésperas de partir para outras paragens, quando o Comandante de Batalhão entendeu fazer um balanço do que tinha sido a nossa prestação, mas também avisar-nos do que nos esperava na zona do Ambrizete. O discurso de quem tinha o leme do Batalhão terá sido muito emotivo, principalmente quando falou nas dificuldades que tínhamos encontrado no terreno, salientando o querer férreo dos seus homens.
Como disse, eu não estava lá, mas estava o capitão Franco, o oficial de operações do batalhão, hoje coronel reformado. Com ele cavaqueei demoradamente na passada semana, sobre peripécias do dia a dia no Quitexe, algumas até hilariantes. Outras, seguir-se-ão dentro de dias, como ficou apalavrado.
No dia do discurso de que dou conta, e que terá durado cerca de meia hora, logo que a Companhia “destroçou” abeirou-se dele, muito ansioso, o «Menino Jesus», atirador do «pelrec»: «Meu capitão, meu capitão, dá licença… a sua casa está a arder”! Intrigado ficou o capitão por este só lhe dizer quando a Companhia “destroçou”! E lá correu Quitexe acima, aflito, porque na casa moravam mulher e filha. A rápida intervenção de alguns civis que por ali andavam já tinha posto fim ao incêndio, que felizmente não passou de um susto.
E como é que o “Menino Jesus” sabia?! Sabia porque um civil lhe deu o recado mas o Comandante da CCS não o deixou transmitir, proibindo a sua entrada no gabinete de operações, área reservada, ordenando-lhe que seguisse imediatamente para a formatura!
«E sem conversa...», gritou, apontando-a com o pauzinho de que não se separava!
E quando aquele homem dizia «sem conversa»… ai de quem se atrevesse a mais uma palavra! Ainda hoje, apenas meia dúzia sabe que Amadeu era a sua graça, e todos se referem a ele como o «sem conversa». Era o RDM em pessoa, mas nós até temos saudades dele! Temosm, sim senhor! E até da idade que tínhamos quando nos aplicava o Regulamento Militar!
ANTÓNIO FONSECA

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