sábado, 2 de abril de 2011

Os domingos e a farda nº. 1 no aquartelamento de Zalala




               A 1ª. Companhia do BCAV. 8423, em Zalala.
                                Foto tirada a um domingo

ZALALA. Todos os domingos, o pessoal que não estivesse de serviço tinha de vestir a farda nº. 1 e formar antes do almoço. Depois do toque do corneteiro, num arco de ferro. Este ruído sonoro, segundo o nosso código, era para formar.
Dois, três, quatro toques, tinham os seus significados. Este procedimento era assim porque a 1ª. Companhia tinha um corneteiro, mas nunca teve direito a corneta, em que  pudesse demonstrar os seus dotes artísticos. Batia no arco de ferro, mas quando se batia repetidamente por algum graduado (por força de situações de perigo), todos sabíamos e interpretávamos o seu sentido de alarme e perigo iminente, ocupando de imediato os locais, pré-estabelecidos, em defesa do aquartelamento.
Muitas vezes e isso aconteceu durante a noite e a metralhadora Breda, dos postos de vigia, substituiu o som do arco, com repetidas rajadas. O seu som era muito mais eficiente, porque transmitia a mensagem que o perigo estava ao lado do arame farpado do aquartelamento.
Voltemos à farda nº 1. Num sítio como Zalala, onde quando tínhamos dia de descanso (isto é, sem serviço marcado) andávamos em cuecas e chinelos de dedo, se calhasse a um domingo tínhamos de vestir farda nº. 1. O Capitão Castro Dias tinha um calendário, e por acção psicológica que na altura não compreendíamos, fazia-nos lembrar os dias da semana, porque para nós não sabíamos se era segunda-feira, ou domingo. O acto de vestir a farda, muita das vezes contrariados, levava-nos à realidade do calendário, porque a nossa preocupação era só contar os dias. Mas nesse dia sabíamos que correspondia a um domingo.
Grande abraço, Capitão Castro Dias.
AMÉRICO RODRIGUES
Furriel miliciano da 1ª. CCAV.
8423, em Zalala

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