Rodiolfo Tomás, 1º. cabo rádio-montador da CCS do BCAV. 8423 e alferes miliciano Garcia (em baixo)
RODOLFO TOMÁS
Texto
Há 37 anos, na noite de 24 para 25 de Abril de 1974, pensando na partida para terras africanas, nem sonhavámos no que estava para acontecer.
Estávamos em Santa Margarida, a formar Batalhão para irmos para Angola, e, de certa forma, até tinhamos vaidade em trazermos no cimo do ombro, colocado no blusão, a etiqueta "Angola".
Foi numa quinta-feira que aconteceu o 25 de Abril. Nós, a CCS do BCAV. 8423, estávamos instalados num daqueles (maravilhosos) pavilhões, que eram muito peculiares no campo militar de Santa Margarida. Estranhámos, eu estranhei, ser acordados às 6,20 horas, por um jovem alferes miliciano que, de G3 na mão, abriu um dos portões daquele rectângulo coberto a que chamavam caserna. Depois, ouvimos a culatra ser puxada atrás e de imediato a bala entrar na câmara e serem disparados dois ou três tiros (?).
O jovem alferes, além de ter assustado quem estava no sono mais profundo, pôs tudo em alvoroço.
«Está a levantar, está a levantar rápido!!!... Quero tudo lá fora dentro de cinco minutos!...», gritou ele.
É evidente que nem todos «obedeceram» à ordem, mas os que fingiram não ter ouvido tiveram pouca sorte. De imediato o jovem alferes resolveu o problema: aproximou dos beliches, meteu o ombro na cama de cima e foi só tombar. Resultou mesmo, ficaram logo caídos no chão. Só depois, na parada, de terra e buracos, nos foi dito o que se estava a passar. Tinha acontecido uma revolução em Lisboa e o resto do país estava em suspense. Desde esse dia fiquei a saber que os dorminhocos estavam tramados com esse jovem oficial. Também desde esse dia fiquei com a impressão que me ia dar muito bem com ele, pois não brincava em serviço. Era o aspirante a oficial miliciano, o futuro alferes Garcia.
RODOLFO TOMÁS
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