terça-feira, 5 de abril de 2011

O Congresso da Oposição Democrática em vésperas de assentar praça

O 3º. Congresso da Oposição Democrática decorreu no Cinema Avenida, em Aveiro (1973)


Aos idos primeiros dias de Abril de 1973, em vésperas de eu assentar praça, realizou-se em Aveiro o 3º. Congresso da Oposição Democrática - entre os dias 4 e 8 e acontecimento, ao tempo, verdadeiramente surpreendente e que foi, e as palavras são minhas, um desafio à autoridade governamental de Marcelo Caetano.
O Congresso, sobre mim, exercia uma atracção notável, semeada pelo entusiasmo militante do Mário Rodrigues (aguedense da Aguieira), que era da minha idade e membro da Comissão Executiva. O Mário já estivera preso em Caxias, era nosso companheiro de lides jornalísticas e com ele partilhávamos (eu e outros) muitas ideias - muito oposicionistas, da parte dele, que foi militante e panfletário do combate ao regime de então.
A atracção era fermentada no material de propaganda que ele mesmo nos entregava e, depois, clandestinamente, distribuía por destinos que ele sabia. E eram fartas e bem vermelhas as suas homílias, em longas tardes na sede do Orfeão de Águeda, ou nas serras do Préstimo - como quando, por Janeiro desse ano de 1973, por lá andei a ouvir o povo que reclamava justiça, contestava a prepotência e injustiça dos serviços florestais, ou a falta da água, da luz, da estrada arranjada, do caminho sem buracos e lama, do telefone, de uma escola. E ele por lá me achou.
O Mário, na linguagem do tempo, era um revolucionário e isso pagou bem caro. Mas foi quem me atraiu (e ao Fernando Almeida) para a Aveiro irmos na  manhã de domingo de 8 de Abril de 1973. Daqui fomos de comboio, manhã cedo, e, avenida Lourenço abaixo, fomos sentindo o cheiro do congresso. Ainda chegámos à fala com o Mário e mal nos apercebemos do que iria acontecer - por o Governo Civil ter impedido a romagem a Mário Sacramento. Que a organização insistiu em realizar. 
Não vou aqui fazer a história do dia, mas é conhecida a carga policial que evitou a romagem. E que eu vi com os meus olhos.
Duas semanas depois, 23 de Abril de 1973, assentei praça!
O Mário continuou a sua saga revolucionária, caminhando o seu futuro político. Viria a ser candidato nas eleições de 1973 (a 28 de Outubro, já eu era 1º. cabo miliciano em Lamego), na lista da Oposição Democrática e, depois, foi quadro do PCP - qualidade em que dirigiu o jornal A Terra - sem que isso alguma vez melindrasse a nossa relação, ou nos tornasse cúmplices do que quer que fosse. Mais tarde, foi jornalista do Expresso e neste posto faleceu, por doença.
Sempre fomos amigos, em trincheiras diferentes! Ele contra a guerra colonial! Eu, aceitando a convocação, a inspecção, a instrução e a mobilização para Angola. A razão que nos faz luz de ideias neste blogue dos Cavaleiros do Norte.

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