sexta-feira, 27 de maio de 2011

O dia em que a partida para Angola foi adiada

Viegas e Ferreira (Pimenta) na messe de cabos milicianos do RC4

A 27 de Maio de 1974, bem de madrugada, acompanhou-me minha mãe até ali abaixo, ao agora chamado Largo do Centro Social da ARCOR - até há pouco tempo baptizado de Cruzeiro. Foi de silêncios a nossa viagem, apeada, da casa ao largo, uns longos 150... metros - onde esperámos o carro do Neto, conduzido pelo Benigno, para com ele irmos de viagem até Santa Margarida. Era o dia da partida para Angola!
A despedida foi rápida: «Pronto, mãe!... Adeus, adeus... quando menos contar, cá estarei de volta!...», disse-lhe eu, cheio de nove horas, feito forte de alma e de coração.
«Adeus, rapaz!...», disse ela. Sem um ai, ou um qualquer sinal de amargura!
Lá fomos, pela estrada fora, a ver abrir a alvorada, até Santa Margarida. Pouco depois, soubemos que a partida fôra adiada para 4ª. feira, dia 29. E estávamos autorizados a voltar para casa. O Neto voltou e fiquei eu por lá, roubando-me a mais uma despedida. A ler, a parlapear com a tropa que por lá ficou e a dar uma volta pela Mata do Soares - por onde fizeramos o IAO! Por lá fui companheiro do Zé Ferreira (o Pimenta, na foto), outro aguedense e companheiro de escola, Ranger do curso seguinte (o terceiro) ao meu (o segundo).
Sabe bem, passados estes 37 anos, recordar estes momentos e, com uma vida entretanto feita, perceber e concluir como era generosa a nossa comunhão com o que a Pátria nos pedia. E pediu-nos a mobilização para Angola - para onde fomos pela razão que este blogue anda a contar.
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1 comentário:

Tomás disse...

Nem sempre é bom recordar, mas no meu caso tudo se passou assim. Minha mãe e meu irmão, que já partiram, foram comigo até Campanhã. Meu irmão encorajou-me pois tinha vindo da Guiné duma zona 100% operacional (Farim e Cuntima) e disse-me; vai descansado que tudo vai correr bem vais ver. Deu-me um abraço, abracei a minha mãe e com os olhos em lágrimas disse-me; Deus queira que não tenhas pior sorte do que o teu irmão, que Deus te proteja. Despedi-me e com uma coragem vinda não sei de onde, disse-lhe; vai ver que dentro de pouco tempo estou aquí. E assim saí de um café em direção à estação de Campanhã com os dois sacos com as fardas ás costas dizendo adeus. Passado cerca de 24 horas estava eu a entrar pela porta dentro; olá cá estou eu novamente, cheguei... depois já custou menos a segunda despedida, sempre na esperança de haver outra surpresa, mas tal só aconteceria 15 meses depois.