quinta-feira, 26 de maio de 2011

O domingo de véspera da minha partida para Angola



A 26 de Maio de 1974, um domingo, gravei o sinal de chamada para a missa. Já tinha a cassete com o dobrar de sinos do funeral do Quim, que se enterrara no dia 12, e eu próprio tocara um repenique de trindades, que fiz de aleluias na torre sineira da igreja.
O dia e a véspera foram passados a vadiar pela aldeia, olhando campos por onde até aí ajudava minha mãe no amanho minguado de terras - o subalo, a pontepedrinha, a codiceira, o serrado, a travessa, o vale do serrano, a longa, a arroteia, a tapadinha..., o valbom, o gramal!!! -, mandando falhas nas águas amoliçadas da pateira e a dar dois dedos de conversa com quem me cruzava nestas minhas horas do «adeus, que vou para... Angola!!!».
Foram dias descontraídos! Muito serenos! Minha mãe, ao tempo recém-viúva, lá me almofadou a mala e o saco que levava de viagem, com conselhos que ainda hoje guardo. «Lembra-se do que me disse faz hoje 37 anos?!...».
Não se lembrava a autora dos meus dias, hoje repousada no Jardim Social aqui do lado, quando há bocado lhe falei e até que lhe disse: « Foi quando fui para Angola!!!...».
«Ah, prá guerra!...», exclamou-se ela, agora a caminho dos 91 anos e de sorriso aberto, a tocar-me no ombro direito com uma espécie de soco, certamente a esconder-me a recordação das dores que ao tempo sentiu.  
Assim dito, logo desfiámos longa conversa, até que lhe chegou a hora da janta. Fui eu de seguida, e de carro, dar a volta por aqueles sítios de há 37 anos, fazendo «reconhecimento» dessas memórias e aqui estou, agora, a editar o post 880 deste blogue dos Cavaleiros do Norte. O tempo passa depressa!
- QUIM. Joaquim Augusto Tavares Pires, 36 anos, conterrâneo então falecido. Irmão de Porfírio, Lurdes, José e Fernando, o actual presidente da Junta de Freguesia de Ois da Ribeira, a minha aldeia natal e de residência. 
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2 comentários:

Anónimo disse...

Olá CV:
Tudo bem por aí ? Vou-me encontrar com o Rodrigues e o Queirós. Logo que tenha, mais informação de quando, comunico-te para ver se conseguimos conciliar dia e hora, ok.
Um abraço,
Manuel Pinto

Anónimo disse...

Gostei desta história, sobre aquela senhora de idade vetusta. E gostei de ler, porque sei que é verdade, sobre aquela longa conversa, recordando dores e medos!
Com aquela idade, estas pessoas necessitam dos carinhos que já deram, neste caso a um «latagão» que até foi Ranger…
É a hora da retribuição…
Meu caro amigo; desculpe o sermão…
Mas tinha de fazer isto!
JF