segunda-feira, 9 de maio de 2011

Os dias de tensão e quezílias na cidade de Carmona

Bairro Popular, em Carmona (1975). As antenas são
das instalações da Junta Provincial de Povoamento



Os dias de Maio de 1975, em Carmona, foram-se levedando de tensão - já não só pela animosidade da população civil para com os militares, mas também porque, numa terra que era «terra da FNLA», por isso, não eram bem vistas, nem aceites, outras opções políticas - nomeadamente o MPLA! E a UNITA, que pelo norte uígense começou também aparecer. E, muito timidamente, até alguns movimentos da preocupada sociedade civil. 
Por isso mesmo, tornaram-se vulgares e regulares as quezílias entre eles e, cito o Livro da Unidades, «por vezes nem se conhecendo bem as razões, ou sequer se conseguindo distinguir a origem das situações» - que, à partida, pareceriam de entendimento fácil, mas que se tornavam motivos de polémicas e agressividade - com as NT a terem «enorme dificuldade em fazer vingar o papel de árbitro», que seria condição prioritária para que os processos de integração dos (ex)combatentes e de independência corressem bem. Minimamente bem!
E que o dissessemos nós, os militares que patrulhávamos a cidade (prncipalmente durante a noite), ou nela policiávamos
o atavio, o aprumo ou a segurança militares, e tantas vezes era alvos até de chacota e de muitas provocações.
Numa noite, numa das primeiras depois da minha chegada de férias, seriam umas duas da manhã, chamaram-nos para incidentes no bairro popular e recordo-me bem do frio dos nervos quando nos aproximávamos. Dos suores que nos encharcavam o camuflado. E não era só do calor africano, era da tensão física e emocional. Ouviam-se tiros, que felizmente acabaram quando nos aproximámos, de unimog e armas aperradas e de bala na câmara, para o que desse e viesse.
Não deu nem veio nada! Havia algum respeito pela tropa e este era um bem que queríamos manter.

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