segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

BART. 786: Os que antes de nós fizeram o Quitexe...

Edifício do Comando do BART. 786, no Quitexe (em cima) e crachat (em baixo) 


JOSÉ LAPA
Texto

A 11 de Junho de 1965, depois de longa e penosa viagem, o Batalhão das Artilharia 786 chegou ao Quitexe onde, hoje, completa 10 meses de estadia.
Não estamos tão longe desse dia, que não possamos estabelecer um confronto, meditar um pouco e sentir a alegria de um trabalho duro, mas largamente compensador! Quando chegámos, o Quitexe era uma terra triste que ensaiava finalmente, com base no esforço das Unidades que nos antecederam , o regresso à vida que conheceu antes dos dias fatídicos de 1961. A nossa presença trazia uma mensagem de fé, de confiança e boa vontade, que a "Vila do café" sentiu, aceitou e compreendeu. Tão evidente era o nosso desejo de trabalhar, de levar a bom termo a missão que aqui nos trouxe, que houve entre a população civil uma não menos evídente vontade de colaborar. Assim. enquanto as Forças Armadas levaram, dia e noite, a todos os recantos da ZA, uma presença firma mas isenta de ódios, na que foi a "Vila mártir" a população apagava, aqui e ali,os últimos vestígios de destruição, abria as portas que o terrorismo fechara e alindava a sua Vila! Essa conjugação de esforços, essa perfeita união entre militares e civis, tinha, forçosamente, de dar os seus frutos. A população nativa, refugiada nas matas sob a ameaça dos seus "libertadores", começa a acreditar nas Forças Armadas e,mais do que isso , sente que lhe oferecem incondicionalmente, a liberdade, o direito à vida que procurou, em vão, durante 5 anos de falsas promessas. Receoso, a princípio,apresenta-se um pequeno número que vai engrossando na medida em que, á mata,chegam notícias do acolhimento que lhe é dispensado.
Voltam as sanzalas a ladear as estrada par Carmona, o capim é substituido pelas culturas indígenas e, ao domingo, já o Quitexe nos oferece um ar de festa, nas cores garridas dos trajes e no barulhento e tradicional batuque que o nativo não dispensa.
A Vila tem hoje, incontestávelmente, um aspecto mais limpo, mais cor, mais alegria, outra vida! Não levamos a nossa modéstia ao ponto não aceitarmos a parte importante que essa transformação se deve ao Batalhão de Artilharia 786. Antes pelo contrário, a aceitamos, nos orgulhamos dela e sentimos que estes 10 meses de sacrifícios sem conta, hão-de constituir um do períodos mais belos da nossa vida.
JOSÉ LAPA
Abril de 1966

 

1 comentário:

Octávio Botelho disse...

Caros Camaradas Cavaleiros do Norte:
O signatário deste "coment",no
período de 1965/67, foi Fur.do QP de Ar-
tilharia, e posteriormente, 2ºSarg.Artª fazendo parte do QO da CArt785/BArt786
que,inicialmente, foi colocada na Fazen-
da Liberato, depois em Stª.Isabel e na
parte final da comissão, novamente no Liberato. O ex-Fur.Milº.José Lapa, deve ter contribuído para a elaboração deste
"post", pois que nele se revela a mão de
uma pessoa que conheceu e sabe muito bem
o que está a relatar.
Creio que devem saber que a nossa comis-
são no Sub-Sector do Quitexe, Sector de
Carmona foi uma duríssima provação de dois anos de operações intensivas em que
éramos utilizados por todas as cadeias de Comando, pois tínhamos que fazer serviços operacionais desde o escalão
Companhia, passando pelas do Batalhão,
do Sector até ao nível das da RMA. Éramos um "pau para toda o obra" e não nos pouparam em nada. Para fazerem uma idéia do real panorama que tínhamos pela frente, basta dizer-vos que, em muitos meses do ano, muitas, mas muitas vezes mesmo,papávamos 21 R/C, tipo E. E, reforçando este quadro, ainda recordo o discurso feito na Un.Mob. pelo n/2ºComandante, no fim da comissão, que disse estas mesmas palavras que digo a seguir: "O n/Batalhão nos seus dois anos de missão realizou trabalhos que um só homem levaria, sem parar, 44
anos a realizar".
Ao ler alguns "posts" do v/blogue, reavivaram-se todas as imagens que, desde aquele tempo, me ficaram gravadas na memória e que estavam em "stand by". Memórias duma vida dura, cheia de riscos, em que palmilhámos difíceis itinerários com destino a diversas serras:Vamba, Quitoque, Pingano, Uíge,Quivinda e ainda os vales do Luége, Vamba, Loge, Dange, Sanda, etc, etc!..., que configuravam o nosso Calvário.
Mas, por incrível que pareça, há um estranho sentimento de saudade desse temmpo, não das circunstâncias em que se vivia e viveu, mas da Camaradagem, Espírito de Corpo e Amizades que se ci-
mentaram e mantêm até hoje, passados que são 44 anos do fim dessa Comissão e que, ainda hoje, fazem com que os elementos dessa força expedicionária se reuna em convívios anuais regulares, tais como o que se realizará dentro de 3 dias(28 do corrente), algures entre Fátima e Batalha.
Hoje,sou Sarg.Aj.Artª.Aposentado, já com os meus quase 75 anos, doente coronário,(fiz um "bypass em 1989) diabético insulino-dependente, mas espero ainda este ano,ir
encontrar-me pela primeira vez, com os
meus camaradas dessa memorável expedição
a Angola e ao Quitexe.
Sem mais, os meus cumprimentos para o
"blogmaster" e colaboradores dos Cavaleiros do Norte, assim como para todos os elementos do vosso BCAv, do ca-
marada,

Botelho