segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A independência de Angola e os primos Resende

Estrada do Café, á saída de Carmona (Foto de Bembe, em Agosto de 2010). O troço que se vê ia dar ao Quitexe (a 41 kms), para Luanda. Aeroporto de Carmona (em cima)

O mês de Janeiro de 1975 decorria sem grande alvoroço, murmurando-se embora, pelo Quitexe, uma nova remodelação do dispositivo militar - na sequência da próxima extinção do BC12, em Carmona. Lá chegarímos, a 2 de Março.
Ao dia 9, combinado com amigos próximos - que me defenderiam as costas, caso fosse necessário... - preparei-me para uma escapadinha a Luanda. Pela estrada de asfalto, galgavam-se 280 quilómetros, zás, trás, pás e já lá estávamos. Mas mais fácil era ir de avião, voando de Carmona.
Buscou-me o Albano, no aeroporto, e por lá me deixei ficar no remanso do Katekero, à mão de qualquer sítio mais desejado de Luanda - na baixa de todas as cores e apetites, das mesas e esplanadas de sabores e frescuras, dos calores, dos cios e das emoções das noites, que invariavelmente desfrutava na companhia do Alberto. E por lá nos fazíamos até passar por irmãos gémeos.
A 10 de Janeiro, hoje se completam 35 anos, o Albano «pregou-me» uma surpresa: a visita ao primo Paulo, que eu conhecia da casa da família Resende (aqui a 100 metros) e da relação deles com as minhas irmãs - e por quem nutria a admiração de ser dirigente do Benfica de Luanda e da secção de basquetebol feminino, que tempos antes (1966/67) tinha sido campeã nacional. Suponho até que tinha sido ele o treinador da equipa.
Vimos as instalações do clube e a noite foi para falar de política, que nesse dia começava no Alvor a Cimeira que iria determinar a independência de Angola. Decorreu entre os dias 10 e 15 de Janeiro de 1975, sendo a base das negociações constituída pela plataforma acordada pelos três Movimentos, em Mombaça, no Quénia.
Não o sabíamos nessa noite, como é  óbvio, mas o Acordo do Alvor viria a afirmar a FNLA, o MPLA e a Unita como «os únicos e legítimos representantes do povo angolano» e proclamava o direito à independência, com Angola «constituindo uma entidade una e indivisível nos seus limites geográficos e políticos» desse tempo e que, neste contexto, Cabinda era «parte integrante e inalienável do território angolano».

A data da independência ficou marcada para 11 de Novembro de 1975, definindo como órgãos de poder, para o período de transição, um Alto-Comissário e um Governo de Transição, presidido por um Colégio Presidencial. Também previa uma Comissão Nacional de Defesa, para decisões no tocante à segurança.
Precupado com isto estava o Albano, menos interessado me parecendo o primo Paulo - como ao outro dia (já era sábado) concordámos ao almoço, no então recém-inaugurado Mutamba, muito perto do trabalho de outro irmão do Albano, o Manuel - que se juntou ao manjar da enorme esplanada interior do restaurante.
«O que é que achas disto?», perguntou-me o Albano.
Que preparassem as malas, que mandassem o que pudessem para Portugal, que, que e que...
Surpreendeu-se o Albano e trocámos fartas impressões sobre a situação que se vivia em Luanda. Nada simpática. Nada segura. Muito vulnerável, assim me parecia. Nessa noite, do nono ou décimo andar do Katekero, vi os céus de Luanda a «arderem» de fogo cruzado. Grupos isolados trocavam «mensagens» ao som das armas.
Ver AQUI.
AQUI.

Sem comentários: