domingo, 30 de janeiro de 2011

O guia sabia mais que os tropas operacionais

Vista aérea do Quitexe, antes da chegada do BCAV. 8423. A vermelho, a capela. A amarelo, o espaço da parada, oficinas e casernas (estas, ainda não construídas). A a roxo, a casa dos ffurriéis. A verde, a messe de sargentos. Entre a casa dos furriéis e a messe, o depósito de géneros e a messe de oficiais




ANTÓNIO FONSECA
Texto

A partida para uma operação revestia-se sempre de secretismo, por todas as razões que se conhecem, ou conheceram. Se bem que, e aqui sempre achei estranho, nunca entendi muito bem porque razão os guias tinham conhecimento delas.
Então se nós, militares, são sabíamos, porque razão sabiam os guias?! E porque andávamos nós em surdina e quase a rastejar pela vila do Quitexe para que ninguém nos visse? Por que diabo tinha eu de me esgueirar avenida abaixo? Foi coisa que nunca deu para entender e quem sabia, se sabia, estava calado.

É verdade que nós, por questões de segurança, não devíamos nunca saber! Por outro lado, sempre achámos que se tornava incómodo sabermos pela boca do dono da padaria civil ou até através de um empresário da vila que explorava pó de talco! Pois é, e por estas e outras, o Comando pedia muita contenção a quem se sentia impelido a visitar sanzalas, e principalmente a nelas passar a noite. E aqui é que residia o problema nada fácil de resolver. Quitexe não tinha quartel fechado, e de noite, contava a ronda, muitos eram os vultos a esgueirar-se.
Não foi por acaso que o Pinto, homem de Transmissões, ficou de boca aberta quando uma cliente da “loja” dos radiomontadores lhe disse que o marido ia com os militares de noite!
“Dôs dia ele vai sim, sempre eli vai mas sempre eli volta1...”.
O bom do Pinto, que estava na calha das saídas, foi perguntar ao furriel se realmente iam sair, mas não foi lá muito bem recebido porque o homem estava mal disposto. E porquê?, porque também tinha sabido da mesma forma e não gostou!
A melhor maneira de resolver o problema era acabar com os guias e guiarmo-nos sozinhos, pensou-se. Mas aqui tínhamos dois problemas: o primeiro é que não conhecíamos bem (nem mal) as densas matas; o segundo, é que o guia, por “desemprego” ou por opção, podia mudar-se de catana e bagagens para o outro lado. E levando consigo tudo o que sabia, e que já era muita coisa! Assim, tudo ficou na mesma mas com sérios avisos à navegação, por parte do Comandante, para terem cuidado em vale de lençóis! Mas ninguém percebeu o que raio tinha vale de lençóis a ver com padaria, restaurante ou café, de onde vinham realmente as informações! A questão não havia volta a dar!
ANTÓNIO FONSECA

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