sábado, 15 de janeiro de 2011

A notícia de um falecimento na aldeia...


Aeroporto internacional Craveiro Lopes, em Luanda (1974/75)

Aqui falei, no dia 11 d Janeiro, de um encontro de ribeirenses em Luanda, no bacalhau do Vilela - ao bairro da Cuca. E da visita que, nessa altura, eu e o Albano Resende fizemos ao Neca Reis.
Neca e Aníbal (também Reis, o Lito) foram os dois primeiros conterrâneos mobilizados para Angola, em 1961. O Neca, que é meu vizinho de a 100 metros, passou mesmo pelo Quitexe e Carmona, em passas de guerra que nem vale a pena lembrar.
Esta tarde encontrei-me com ele e eu, de memória fresca pelo post de 3ª.-feira, lá lhe lembrei a bacalhauzada do Vilela.
«E sabes que novidade me deste ao outro dia?», perguntou-me ele, de olhar grave e olhos a quase marejar para a emoção. Não, não me lembrava. «Deste-me a notícia da morte do meu pai...».
Rebobinei a memória, reli apontamemtos e vem ao caso lembrar que, na manhã de domingo, dia 12 de Janeiro de 1975, estando eu em Luanda, fiz um telefonema para a vizinha Celeste, querendo  surpreender minha mãe, que era vizinha da loja que tinha um dos apenas dois telefones que existiam na minha aldeia. Telefonar de Angola para Portugal, naquele tempo, era uma verdadeira epopeia, um verdadeiro atrevimento, e em nenhuma das vezes consegui falar com a autora dos meus dias. Mas, dessa vez, disse-me a vizinha Celeste que tinha sido o enterro do pai do Neca, na véspera. O enterro de José Simões dos Reis - que conhecíamos por Taipeiro.
Fiquei naquela de ir ter com ele, ou não. Ele já saberia, ou não. Na véspera, que tinha sido o dia de funeral e da bacalhauzada, não sabia. Resolvi-me a ir e lá fui de táxi, até ao restaurante onde ele trabalhava - para lhe dar a notícia. Horas depois, lá tinha de voltar ao Quitexe e dei-lhe a má nova num ápice de tempo. Ele ainda não sabia. Naquele tempo as comunicações não eram como hoje, quase instantâneas - e ainda lá não tinha chegado a má nova. 
«Ainda servi os almoços e depois fui para casa. Só uns dias depois recebi uma carta a dar-me a notícia», comentou-me o Neca, na conversa de hoje. E desfiou-me, depois, a maldição do seus tempos de militar em Angola, ns epopeicos tempos de 1961 e 1962. 

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