quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A mãe que fazia anos e tinha o filho na guerra...


Hoje fui reler a minha mãe o aerograma que escrevi, para lhe saudar o dia 20 de Janeiro de 1975. Fazia ela, por esta data, uns juvenis 54 anos. Hoje, faz 90 e tem uma memória de aço! Quem me dera!!!
A minha incorporação militar foi menos de um ano depois da morte de meu pai e, como todos sabemos, as famílias portuguesas desse tempo viviam o estigma da guerra do ultramar - onde iam parar todos os rapazes, aos 20/21 anos, nem que fossem coxos, surdos, mudos ou carecas! Eu não escapei à onda e por casa ficou a senhora minha mãe, viúva e só - que as minhas irmãs tinham casado e ido à vida delas.
«Eras um bruto!!!...», atirou-me ela, de um ápice, a  «mastigar» a piada de filho saudoso que eu lhe mandara no aerograma que hoje lhe reli, «castigando-a» por nele a felicitar pelos anos que fazia mas também a interpelar sobre os dias que se passavam entre a sua escrita para o filho que andava na guerra.
«Julgas que eu tinha a tuda vida!!!...».
E não tinha. Teve vida sacrificada, sem luxos, sem prebendas, sem coisa a mais que fosse para além da mesa sempre com pão, a gaveta sempre cheia e a roupa sempre lavada. A dor da partida do filho para a guerra, não sei se não terá sido muito igual à da perda de seu marido, meu pai!.
«Vê lá se voltas, rapaz!!!...», disse-me ela na madrugada de 26 de Maio de 1974, quando nos despedimos - sofrida, assim a via eu, mas segura e sem um ai. 
Eu ia para Santa Margarida e logo depois para Angola. E sei lá eu quantas orações fez pela sorte do filho, nesse tempo que foi o meu tempo de Angola. 
«Lembra-se do que me disse quando voltei?...», provoquei-a hoje, a testar a sua memória e brincalhar com os seus afectos.
Sabia muito bem. Eu fôra chamar a minha irmã, para a ir acordar, e ao ver-me, de olhos a sorrir, os mais doces que alguma vez lhe vi, perguntou-me: «Então, já chegaste, rapaz?!!!...». 
Hoje, fez 90 anos. A festa vai ser sábado. 
NOTA: Foto de C. Viegas, no Quitexe, em
data muito próxima de 20/01/1975

4 comentários:

Tomás disse...

Senhora mãe, do Celestino Viegas, muitos parabéns pelo seu dia de aniversário. Espero um dia conhecela num dos nossos convivios, quanto mais não seja para podermos cortar na casaca do seu filho(!)... Como é bom termos uma Mãe com quem podemos conversar e trocar recordações. Parabéns Viegas.

Anónimo disse...

Viegas 1 abraço para ti, mas um forte abraço para a tua Mãe. Ela merece.
Américo Rodrigues

Anónimo disse...

Viegas 1 abraço para ti, mas um forte abraço para a tua Mãe. Ela merece.
Américo Rodrigues

Anónimo disse...

Só com o decorrer dos anos, podemos ter a experiência de reconhecer os sentimentos daqueles que nos são ligados na Família, e o sacrificio da mesma. Tu sabes isso. 1 abraço.
Américo Rodrigues