segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Os dias de Fevereiro de 1975...

Vista aérea do Quitexe, em Março de 1967 (foto cedida por José Lapa, do BART 786).

Fevereiro de 1975 nasceu para os Cavaleiros do Norte com muitas dúvidas, sendo já certo que iríamos abandonar o Quitexe. A dúvida principal estava entre a saída ser para Luanda, ou para Carmona. O dispostivo militar tinha sido alterado nas semanas anteriores mas outras mudanças se preparavam.

A guarnição andava ansiosa e não tinha respostas. O alferes Garcia, comandante do PELREC, era, entre nós, quam mais saberia de tal... - mas se sabia, não dizia. Porventura por questões de segurança. «Vamos cumprir a nosa missão...», era o que ele nos dizia, muito convicto e sério, sempre que era por tal perguntado, quando saíamos para os patrulhamentos da estrada do café - praticamente o único serviço que fazíamos no exterior. Salvo alguma visita a alguma fazenda ou aldeia dos arredores da vila.

As mesmas perguntas nos faziam os companheiros de Aldeia Viçosa (2ª. CCAV.) e Vista Alegre (1ª. CCAV.) - irmãos na ansiedade dos tempos que corriam. De Portugal, voavam especulações e gritava-se por Lisboa: «Nem mais um soldado para as colónias!». Vasco Gonçalves era o 1º. Ministro - de 18 de Julho de 1974 a 19 de Setembro de 1975 - e, negociado o acordo do Alvor, entre os movimentos de libertação e os representantes do MFA local, a expectativa era a de um regresso rápido a nossas casas. Mas...

Muita gente se concentrava nas ruas de Lisboa e criticava a descolonização, aos berros: «Nem mais um soldado para Angola, nem mais um soldado para Moçambique, nem mais um soldado para o ultramar».

O correio que nos chegava de Portugal invariavelmente falava do regresso: a família e os amigos não nos dispensavam a pergunta. Numa breve incursão a Luanda, encontrei um militar amigo, dias antes chegado de Lisboa. O Monteiro voltara de férias e nada sabia dizer sobre o assunto. Patrulhávamos, escoltávamos, dormíamos e acordávamos, sempre com a mesma dúvida: voltar, quando?

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