segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Comício da FNLA em Quitexe...

Aldeia do Talabanza, à saída do Quitexe para Carmona (esquerda)

Fevereiro de 1975, dia 8, um sábado! A guarnição sabe da realização, no dia seguinte, de um comício da FNLA no Quitexe - estranhamente colaborado pelo PAIGC, da Guiné-Bissau. Os operacionais são alertados para a eventualidade de intervenção. Há nervosismo evidente.
Seis dias antes, um domingo, em Aldeia Viçosa, a 2ª. CCAV. 8423 tivera de intervir para sanar incidentes entre o MPLA e a FNLA. A rapidez da acção operacional dos comandados do capitão José Manuel Cruz, fôra decisiva. A situação, no Quitexe, apresentava-se com muitas dúvidas, mesmo grave, e foram tomadas medidas operacionais preventivas: patrulhamentos e postos de sentinela reforçados, o piquete de prevenção em alerta! Não fosse o diabo tecê-las, a tropa passou ao fim de tarde e já noite adentro, pelas aldeias do Talabanza, Canzenza e Aldeia. Mostrando-se!
O PELREC «estacionou» toda a noite na pista de aviação em alerta. Poderia ter de «invadir» o Quitexe, a cada momento, por um dos flancos. A garantir segurança de pessoas, principalmente! Eram conhecidos e propagandeados alguns ódios sobre europeus brancos e todos nos lembrávamos dos ataques de 30 de Setembro, na área do Liberato. E aos homens da JAEA, na Quinta das ARCAS, e da morte de um madeireiro branco.
A guarda detectou, pela madrugada do dia 8, movimentos e ruídos estranhos para lá do capinzal. Temeu-se o pior e rastejaram, em espreita atenta, com olhos de ver, o Marcos e o Francisco - dois bravos pelrec´s. Homens sem medos. O cabo Vicente, fez a ligação com o pelotão, todo ele armado de G3 e com bala na câmara. O Neto, preparou o dilagrama! Suávamos todos, na madrugada que crescia - enquanto, via rádio, comunicávamos e recebíamos instruções do alferes Garcia, com um outro grupo em guarda para os lados do Posto 5. Foi despistada a evolução de uma pequena coluna de meia dúzia de homens armados. Avançou o Neto. Um de nós tinha de ir, outro de ficar. São momentos que, 35 anos depois, parecemos estar a sentir no som do teclado, pausado como o bater do coração daquela madrugada. As instruções chegaram: controlar o grupo, não interferir. Por momentos, intervalados, a meia dúzia de homens esteve debaixo da mira do fogo das G3. O Neto, se tivesse de atirar, não falharia o dilagrama, a granada defensiva esfacelaria os homens. Mas nada disso foi preciso.
O comício do fim de tarde de 8 de Fevereiro de 1975 decorreu sem problemas. Felizmente!

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