domingo, 7 de fevereiro de 2010

A pacaça que, afinal, era um boi do Pimenta...

Pacaça, espécie de vaca selvagem e peça de caça habitual na zona do Quitexe

JOSÉ LAPA
Texto
Não havia, na CCS, muitos caçadores de perdizes. A essa actividade se dedicava, quási em exclusivo, o tenente Inocêncio, chefe da Secretaria! Outro tanto não sucedia com os caçadores de "caça grossa"! Animados com o êxito do 2º. Comandante (o major Pinheiro), que dia-a-dia vinha engrossando a sua valiosa colecção de troféus, os rapazes da Companhia iam afirmando, sempre que podiam, a sua extraordinária inclinação para a caça.
Gostavam de "caça grossa" e lá tinham as suas razões. É que os bons rapazes que não iamà mata, viam passar os meses sem uma oportunidade de fazer o gosto ao dedo, de mostrar o seu valor, já que, felizmente os IN não vinha ao Quitexe.
Justo era salientar o cuidado com que a malta ia fazendo uma preparação progressiva, procurando encontrar o calo que caracterizava o bom caçador. Assim, começou por atirar aos pirilampos que se atreviam a passar a linha de defesa do Quitexe. Até havia quem dissesse que alguns "valentes" disparavam convencidos de que se tratava de "turras", que comunicavam entre si com lanternas de bolso. Que isso de pirilampos é conversa! Sempre nos mantivemos na nossa, isto é, sempre acreditámos tratar-se de preparativos para a caça. E os factos foram-se encarregando de isso demonstrar.
Os tiros que tantas noites nos faziam saltar da cama, atraídos pelo som que cheirava a "põe-te a pau", não eram mais que a expressão desse treino persistente - que havia de "fabricar" bons caçadores. De resto, o resultado estava á vista!
Dia 16, cerca das 22,30 horas, saiu para os lados de Aldeia Viçosa e em serviço de controle, um grupo de devotos de S. Huberto. Quero dizer, uma Secção de Atiradores. A uns 300 metros do Quitexe, a equipa de um Unimog que se atrasara, para permitir uma melhor observação de certa zona, foi "atacada" por um vulto estranho. Estabeleceu-se a natural confusão, houve alarme geral! O GMC, cozinheiro de profissão, garantia tratar-se de um burro transportando dois sacos de couves para o mercado do dia seguinte! O cabo Morteiraço gritava que é um elefante - apostava, até, que lhe tinha visto a tromba!
A 100 metros daquela aparição fantasmagórica, o Unimog parou. O condutor, um desempoeirado moço com 150 centímetos bem medidos, "descobriu" que era, afinal, uma "feroz" pacaça que se aproximava, cautelosa, para os liquidar! E, sentindo chegar o seu fim, encomendou a alma a Deus e pediu a G3 ao GMC. O bicho avançou, indiferente à confusão que reinava a poucos passos. Avançou mais uns metros, enquanto as suas "vítimas" sentiam chegada a hora que marca o fim! O Fernando empunhou a G3, mas tremeu de tal modo que mal conseguia segurá-la. A pacaça não interrompeu a marcha. Porém, soou um tiro e o Bolinhas apercebe-se de que aquilo estava carregado!
A pacaça interrompeu a marcha. Caiu! Estavam salvos! Atiraram mais uns balázios, não fosse o diabo tecê-las, que estes bichos são traiçoeiros! Agora sim, estava morta! O medo desapareceu, substituído por alegria enorme. Todos abraçaram o Bolinhas, o seu salvador, e este sentiu que, afinal, não era só o major que matava pacaças!
Entretanto e enquanto se faziam projectos para umas cucas que haviam de regar as saborosas bifanas, aproximaram-se da pacaça, abatida com tanta valentia. Mas o que é isto? Ah!..., Ah!..., mas que decepção!
«Não é uma pacaça...», disse o Morteiraço.
«Pois não!...», confirmou o GMC.
«É um boi do Pimenta...», desabafou o Bolinhas.
«Estou tramado!...», lamentou-se o Bolinhas.
E lá ficou a tremer, amaldiçoando aquela hora do diabo em que matou uma pacaça que, afinal, era boi!
- LAPA. José Lapa. furriel miliciano do Batalhão de Artilharia 796, que esteve no Quitexe entre 1965 e 1967.
- HISTÓRIA. História verídica, envolvendo militares da CCS do Batalhão, passada no dia 16 de Dezembro de 1966. O boi era de Pimenta, comerciante de gado do Quitexe.

1 comentário:

Anónimo disse...

                                        Senhor C.Viegas.
                                         Encontrei uma fotografia no blogs "Cavaleiros do Norte Quitexe" respeitante ao torneio de futebol em que fez parte o o destacamento de intendência 1OO3 em 1966. Acontece que eu mesmo estive em Aldeia Viçosa como Enfermeiro e algumas vezes acompanhei doente e outras vezes feridos porque nessa altura permaneci na Roça Luiza Maria.
                                         Pergunto ao Senhor se conheceu o comandante do destacamento de Intendência e se sim qual a possibilidade de me informar do seu nome, dado que tenho um amigo que o procura e se encontra no Canada bem com eu me encontro em França onde passo todos os invernos por motivo de casamento com uma senhora francesa e o resto do tempo em Portugal perto de Torres-Novas. Creio que não serà uma so vez que nos contactaremos e até là os meus maiores agradecimento.
Respeitosamente
Dias Lopes