domingo, 2 de janeiro de 2011

Passagem de ano com a G3 bem ao pé da mão...

A Casa das Trasmissões, na passagem de ano de 1972 para 1973. Foi um dos «santuários» da festa da noite. Ao fundo, com entradas em arcos, era a residência do Comandante Almeida e Brito (BCAV. 8423). Ao meio da rua, ficava a enfermaria militar.


A última semana de 1972 foi de grande azáfama na preparação do fim de ano. Todos, ou quase todos, queriam ter uma noite diferente e não se pouparam a esforços para adquirir alguns pitéus, a maioria comprados aos comerciantes locais.
Alguns, como não podia deixar de ser, foram “fornecidos” pelas messes de sargentos e oficiais. Não que estes se dispusessem a tanta gentileza mas porque os “impedidos” foram hábeis em desviar o que, como se veio a verificar, havia em excesso.

E como se constou que nas horas que se seguiram à consoada se registaram alguns abusos gastronómicos, principalmente na messe de oficiais, talvez não fosse má ideia retirar algumas calorias a quem tanto abusou delas. Alguém pensará: mas, afinal, os oficiais não comeram do mesmo que os praças?! Comeram, sim senhor, os praças é que não comeram do mesmo que os oficias! A solidariedade não chegou a tanto, nem nós a esperávamos. Houve, portanto, duas consoadas distintas!
Assim sendo (e sabendo), houve que puxar pela imaginação e imitar um pouco o Robin dos Bosques – desviar para os pobres! Apenas uns quilitos de mariscos, vinho verde e umas garrafitas de whisky. Nada de especial!
A noite de 31 iria ser de arromba, com os grupinhos planeados nas casernas e quartos, onde só faltaria o fogo de artifício. Isto, se o comandante não se tivesse lembrado, horas antes, de proibir baldas e ordenar a toda a Companhia que ficasse de alerta nessa noite.
«Há fortes probabilidades de a vila ser atacada na passagem de ano!...», disse-nos ele, num discurso que nos enchia de cuidados e visava a obrigação de nos defendermos mas, acima de tudo, protegermos a vila do Quitexe. Claro que não iríamos ser atacados coisa nenhuma, mas o Comandante, com a sua vasta experiência,  sabia bem os exageros que a tropa seria capaz de cometer. Caímos que nem uns patos!
Comeu-se fartamente, bebeu-se até à última gota e não se estragou nada. Mas ficou estragada a noite, porque tudo foi feito quase em silêncio, com a G3 bem ao nosso lado e atentos a qualquer barulho anormal. Não foi uma noite de sonho, mas em contrapartida não fomos atacados, o que, embora ingenuamente, nos fez esquecer a parte mais eufórica da noite!
ANTÓNIO FONSECA

4 comentários:

Tomás disse...

Obrigado ao António Fonseca pela foto. Como se pode ver, a casa que faz redondo, foi onde os radiomontadores habitaram durante cerca de 3 a 4 meses. Depois mudamos para uma casa quase em frente ao cinema a poucos metros da casa da "Dusol". Já aqui contei uma história que os colegas prepararam, de fazer nesta casa um bailaríco com moças de uma sanzala que já não me lembro de onde eram. Estavamos a preparar tudo com cervejas e sumos para as moças, quando de repente foi dado o alerta, "vem aí a ronda". Não sei se era o Viegas o (sargento de dia), porque afinal ele tem contado que estava em todas, e mal a musica tinha começado a tocar, desligou-se tudo até a luz. Pusemos as moças a fugir pela janela do lado da enfermaria. Nunca mais esqueci estas trapalhadas arquitetadas pelo Marques "carpinteiro", e o Mendes "eletricista do parque auto" do Casal Ventoso. Quem não se lembra destas duas figuras. No outro dia o tenente Mora quiz ensinuar qualquer coisa mas faltavam-lhe provas. Que tempos...

Anónimo disse...

ANTONIO FONSECA deve haver um erro, na data da fotografia e no nome do comandante, porque em 72-73 no QUITEXE ERA comandante o tenente coronel R. L. TRINDADE E LIMA, nao a duvida que a casa ao fundo e a emfermaria e a casa do comandante era no lado direito da mesma um abraço para ti ANTONIO FONSECA FILIPE BRANCO

Anónimo disse...

O mais grave até nem foi o que se passou na noite de consoada mas sim o que se passou durante toda a comissão. Até estou convencido que o comandante nem teve conhecimento dessa segunda consoada já para lá da hora. Deves estar lembrado da discussão com o alferes Gama que era de operações especiais, em plena operação. A travessia de um riacho deu origem a uma troca de palavras que já não me lembro bem como acabou, mas que teve a ver com a alimentação no quartel.
O furriel vagomestre fazia o que podia mas andava ali muita gente a mamar á custa do orçamento, ou pelo menos era o que diziam. Não foi o Peniche que quase originou um levantamento de rancho e que só não resultou porque o comandante o chamou ao gabinete e o convenceu?
E olha que se bem me lembro não foi só na nossa companhia que isto aconteceu. Já lá vai e agora haja saúde e coza o forno.
Um abraço para ti e outro para o Branco que já não vejo há muitos anos.
Teixeira

Casal disse...

De facto registaram-se alguns episódios relacionados com a comida. A célebre "travessia do riacho", como ficou conhecida no relatório da operação pelo ataque de que fomos vitimas, sabe-se lá por quem, nada teve a ver com alimentação. Isso foi muito antes, talvez no dia anterior, por causa das rações de combate que não estariam a 100%. Assim o dizia o Rodrigues ao Furriel.
Abraço
PS: Nada melhor que o almoço anual para dar "aquele abraço". E o Branco bem merece...e precisa!