domingo, 9 de janeiro de 2011

O primeiro dia de 1973 no Quitexe

Entrada do Quitexe, do lado de Luanda (foto de Jorge Oliveira, 2004).
À direita, o bar do Rocha



ANTÓNIO FONSECA
Texto

O primeiro dia do ano de 1973, logo às nove da manhã, tínha-me já no bar do Topete, de volta de uma bifana. Aliás, para ser mais verdadeiro, de duas, com o molho a impregnar o pão e acompanhadas de…”Missions”, que a hora era imprópria para outras bebidas.
A noite tinha sido longa, mal dormida e cheia de alertas, e, talvez por, isso acordei com fome, muita fome. Aproveitei para acertar melhor o almoço que eu mesmo organizei, com um grupo bem restrito e “certinho” e que seria (e foi) servido lá para as 13,30 horas. Cabrito assado, com aquele molho africano que só eles sabiam fazer, com o devido acompanhamento e iguarias. E com cerveja, claro está!
Voltei para a vivenda, onde alguns ainda estavam ferrados no sono, e dei de caras com um amigo, sub-chefe dos Voluntários do Quitexe e quase meu vizinho na então Metrópole. Logo percebi que me ia convidar para o almoço e não me enganei. Não me fiz rogado e nem me desculpei com o almoço que eu mesmo organizara no Topete. Que me perdoassem os amigos, mas eu teria de pedir dispensa e ir comer o cabrito para outro lado. Então, se o amigo Daniel até fizera a noite por troca com um colega para que me pudesse convidar, eu tinha lá coragem de lhe dizer que não?! Quis fazer-me essa surpresa, que muito me honrou.
Dispensado pelo grupo, apresentei-me na casa que me convidara. E lá estava, à minha espera, a D. Maria. No almoço, que ela adivinhava animado, iria falar-se da sua (nossa) terra, de costumes natalícios e de tantas coisas que ambos interiorizavam e que sempre aproveitavam a minha presença para despejar o que lhes ia na alma. E assim foi, durante as horas que durou o repasto, bem conversado e bem regado.
«Tudo isto está divinal!...», gabava eu a cozinheira que, sabia eu, beneficiara de uma mãozinha caseira na preparação daqueles molhos que tornavam a comida ainda mais suculenta.
«Foi tudo feito com muito gosto…», respondia com um sorriso de orelha a orelha e cúmplice com o marido, enquanto sacudia a mão da pequenita que se punha em bicos de pés para chegar às filhoses.
O vinho, um garrafão de cinco litros, foi do verde e oferecido pelo Sr. Morais, assim como uma garrafa de whisky já velhinho, com que nos brindou já ao fim da tarde.
Nem as duas bifanas da manhã no Topete me tiraram o apetite para o almoço, e ainda bem. E voltando ao Topete, por lá almoçou o grupo que eu mesmo convidei e agreguei e do qual fui dispensado, tendo tudo corrido de forma animada e sem quaisquer queixas da gastronomia. E nem deram pela minha falta, o que também não terá sido difícil. E ainda bem!
E tudo isto há 38 anos…, andava esta alminha por terras do Quitexe!
ANTÓNIO FONSECA

1 comentário:

Anónimo disse...

Já quase no final do almoço apareceu no topete o tenente capelão que era açoreano e fezlá umdiscurso de ano novo. Sentou-se á mesa e ainda brindou connosco ao ano novo. Não foste mas ainda trouxeste meia dúzi de filhós de casa do teu amigo e que provámos lá para a noite. Hoje já não seria possível porque infelizmente alguns já não estão entre nós assim como o capelão. Foram dos bons momentos que passámos para compensar os maus.

Teixeira