quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A viagem que era de barco e passou a ser de avião...

Porto e baía de Luanda, vista do lado do porto. Bebidas de militares (em baixo)



A 2 (ou 3) de Setembro de 1975, os Cavaleiros do Norte tiveram uma inesperada e excelente surpresa: afinal, a nossa viagem para Lisboa seria de avião. No mesmo dia 8, a 2ª. feira seguinte.
A notícia foi recebida com euforia. Imagine-se!!! Dez dias de viagem passavam a ser meras 8 horas, mais próximos ficávamos do regresso ao colo das nossas famílias, aos cheiros das nossas terras, ao sabor da cozinha das nossas mães!!! Mais depressa saíamos da balbúrdia perigosa em que estava transformada a cidade de Luanda. E já lá iam 15 meses e alguns dias de Angola!
O encantamento da notícia provocou, porém, um pequeno constrangimento: como trazer os caixotes em que muitos de nós tinham embalado as imensas coisas que viriam no Niassa?! Não era o meu caso, pois a minha tarefa mais difícil era o transporte da «adega» de bebibas que tinha em stock. Lá resolvi a questão com a cumplicidade de amigos da Base Aérea de Luanda e com o sábio conselho do Alberto Ferreira, mandado já de Águeda: «Mete 100 ou 200$00 no bolso dos soldados que andam a carregar as malas e logo vês que te arranjam as etiquetas...». Assim foi!!!
Neste dia, baldámo-nos (eu e o Neto) do Grafanil, depois de,  ao fim da manhã e no porto de Luanda, nos terem confirmado, do «Niassa», que íamos de avião. Fomos para o Baleizão, matar as fomes do estômago e as sedes da garganta, de coração a saltar de alegria, e só de passagem estivemos no batalhão, ao fim da tarde!
Voltámos a Luanda, idos de Viana e à civil, mas com as nossas coisas mais importantes à guarda da pessoa amiga dos Correios. Não fosse assaltada a casa!
A cidade luminosa pareceu-nos diferente nessa noite. O seu bulício, os seus cheiros, os apetites que nos faziam nascer e crescer, tudo foi diverso. A jantar no Mutamba, com o Albano Resende, dei-lhe nota dessa diferença e de que já não era necessário que pusesse as cartas no correio, mas ele já tinha posto algumas. As cartas relativas ao tempo da viagem de barco!
De volta a casa, peguei na minha cassete preferida, a que me matava as saudades e gerava força moral, ouvindo-lhe os repeniques da igreja de aqui ao lado e sentindo-me como se estivesse no adro, a respirar os ares de Ois da Ribeira.
- «ADEGA». Chamei «adega» ao conjunto de garrafas de whiski. licores e bebidas brancas (foto) que, em bornal, trouxe de Angola. Ainda tenho algumas delas. 35 anos depois!!!
- CASSETE. Ver AQUI a história da cassete.
- CARTAS. Ver AQUI a história das cartas.

1 comentário:

Tomás disse...

Afinal porque é que viemos de avião? Alguem do pessoal de TRANSMISSÕES, comunicou com o pessoal do Q.G. e descobriu ou melhor, veio a saber que os aviões chegavam a Luanda descarregavam o pessoal que ía substituir-nos e voltavam vazios. Por este motivo e só por este, o nosso Comandante, Carlos Almeida e Brito teve uma zanga séria após uma reunião em parada no Grafanil connosco no qual ele fez referencia de que "foi o ultimo a saber". E foi assim o nosso ultimo "gesto" de que afinal tambem sabemos o que queremos e como queremos. (Avião sim barco não).