sábado, 11 de setembro de 2010

Saída de Luanda, chegada a Lisboa e a casa...

Uma das entradas do Campo Militar do Grafanil, com a capela escavada
na árvore, nos arredores de Luanda (anos 70 do século XX)

RODOLFO TOMÁS
Texto

A noite de 7 para 8  de Setembro de 1975, há 35 anos, foi  uma das noites mais longas da minha vida. Estávamos no Campo Militar do Grafanil e a pensar: «Dentro de 24 horas, onde é que estaremos?». E este pensamento não nos saía da cabeça, até nos martirizava - a ponto de nem nos deixar dormir.
Num dos espaços abandonados, que tinham sido da (ainda) CCS do BCAV. 8423, dormimos no chão, deitados em cima de cartões: eu (Tomás), o Emanuel dos Santos, o António Silva (rádiomontador) e o (ex-1º. cabo radiomontador) António Pais. Também não admira, com granadas a rebentarem ali por perto, só para despacharem o que não era recebido.
Era grande a ânsia de largarmos a farda e, principalmente, o compromisso de proteger as populações. Estávamos todos fartos de ser mal tratados, espezinhados, caluniados, cuspidos, insultados..., enfim, creio que quase não há adjectivos para descrever tudo por quanto passámos, uns muito mais do que outros.
A noite foi andando e, finalmente e após apenas 3 horas de sono, acordámos para aquela que seria a grande manhã da nossa liberdade, que tanto ansiávamos. Tínhamos partido para Angola com a mensagem de que tinha havido uma revolução para devolver a liberdade ao povo, mas nós éramos soldados e usávamos uma farda que tinhamos de respeitar.
Embarcámos das 10 para as 11 horas da manhã e chegámos a Lisboa por volta das 18. Não tínhamos nenhum Ministro ou Secretário de Estado à nossa espera. Nem sequer fanfarra. E mais tristes ficaram, muitos de nós, ao procurarmos no «aquário» do Aeroporto de Figo Maduro por familiares ou algum amigo, mas nada, ninguém! Cada um terá a sua história, mas a nossa terminou assim.
Logo que nos foram entregues as guias de marcha, cada um foi para seu lado. Não havia dinheiro e do aeroporto para Santa Apolónia não era nada fácil. Por mim, tomei um táxi - com o Santos, de Vagos, e o Silva, de Oliveira do Douro -, e lá fomos para o norte. Ainda parámos para jantar, perto de Leiria, onde comemos o habitual bife com ovo a cavalo, e quem pagou foi o táxista. Depois fizemos contas, claro. Cheguei finalmente a casa, no Porto, eram já 3,30 horas da madrugada do dia 9 de Setembro de 1975 e só adormecí por volta das 6 horas da manhã. Mas que grande odisseia!
RODOLFO TOMÁS

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