terça-feira, 14 de setembro de 2010

Uma Gabela cheia de encantos...


Cidade da Gabela nos anos 70, com a Igreja ao fundo. Foto de Luís Castro

A minha história de Angola de Setembro de 1974 pouco passou pelo Quitexe. Andei a vadiar, de férias... pela imensa Angola, a Angola das mil paisagens e gentes, dos muitos cheiros a terra e a fruta saborosa e madura, dos mil apetites que se condimentavam em cozinhados do melhor que havia. E olhem que eu ainda hoje sou um bom prato.
Andei a laurear o queijo por Luanda e o Albano Resende arranjou-me boleia d´amigo dele, para a Gabela. Aí fui eu, à procura da gente do meu sangue que por lá fazia pela vida: a Cecília e o irmão Mário Neves (ainda parentes, filhos de meu padrinho Arménio, que por lá faleceu de acidente), o Clemente...  
Pela primeira vez e no Toyota Corolla de tal amigo (vendedor de automóveis...), andei a mais de 100 à hora, conduzindo ele pelas enormes rectas de Luanda para Nova Lisboa, depois do Dondo, depois do Lussusso, até à Quibala - até já a espreitar o paraíso cafeícula da Gabela.
O meu habitual «truque» de chegar sem avisar, resultava sempre: a surpresa desmedia alegrias e encantamentos e aqueles dias que comungava com a família e amigos eram dias de verdadeiro paraíso terrestre.
Lá apareci eu em casa do Mário, pertinho da igreja (foto), batendo à porta, truz-truz, bom dia, sou eu, surpreendendo e deixando-me abafar de abraços. Depois, fui até à fazenda da irmã Cecília - onde me fiz caçador com Rafael, marido dela. Depois, de um dia para o outro, fui comensal da fazenda-jardim de Clemente. Foram dias de não esquecer. 
A Gabela era... bela, rica, apetitosa, generosa!!! Quiçá, dominada pelo império empresarial da CADA (Companhia Angolana de Agricultura), grande produtora de café, a seis, sete quilómetros da cidade, num sítio apropriadamente chamado de Boa Entrada - com estação de caminho de ferro, vivendas de jeito californiano (como víamos nos filmes...) e um bairro residencial para os quadros superiores da empresa - com cinema, piscina, campos de ténis e de futebol, biblioteca, um clube social de luxo, tudo feito uma pequena cidade na imensa fazenda CADA, onde nada faltava, qual paraíso!!!.. Incluía um hospital melhor que o da cidade, assim mo diziam. Até uma barragem e creio que uma escola! Por lá cirandei, num dia de matar curiosidades e me surpreender com a grandeza da obra que os portugueses faziam no chão de Angola. Por ali, apetecia viver, até subir aos céus!
Aldeão que sou, não me deslumbrei com o óptimo e fui esticar o nariz para os bairros operários do Galinheiro, do Cassange, do Hospital e da Sanzala - que notei arrumados, limpos, higienizados, de gente feliz, e tendo pouco a ver com as cubatas tradicionais que conhecia das sanzalas do norte.
A Gabela paria-nos encantos! Deslumbrava! Foram dias de férias grávidos de prazer e felicidade, com a família e os amigos, a encherem-me do mundo novo e imenso que era Angola.
Qual tropa, qual quê?! Qual guerra?!

1 comentário:

Helena Ouro Vieira disse...

Gabela! cidade africana trazida na mente coragosa dos que em poesia,frases,fotos ou textos descrevem sentimentos trazidos no peito e não vividos ou contados outora,em sentido de guardar o chorar para depois e o sorrir para recordar. Coragem essa trazida por muitos, como frustrações, do podia ter feito! e ficou para depois...