Aeroporto Internacional de Luanda, nos anos 70 do século XX.
Aqui embarcámos a 8 de Setembro de 1975, para Lisboa
Volto hoje a 8 de Setembro de 1975, e ao aeroporto de Luanda, para falar dos presos algemados que nos foram entregues e que «largámos» em Lisboa. Estávamos nós a «comer» minutos para o embarque, mortinhos por deixar a capital angolana, quando um grupo de militares portugueses nos procurou. Vinham com alguns presos das cadeias das forças armadas, que nós tínhamos de «escoltar» e entregar à Polícia Militar, em Lisboa.
Reagimos, não estávamos para aí virados, mas o que é isso?, mas lá assinámos a guia de entrega e recepção dos detidos, cada um deles algemado a um dos nossos braços.
O meu «escoltado», ao tempo com 27 ou 28 anos, vinha dos calores prisionais do deserto de Moçâmedes e o registo criminal incluía farto cadastro: várias prisões em celas militares, a última delas para «pagar» um assassínio. A tiro, teria abatido um sargento. Ele assim o disse!
Valha a verdade que não acreditei muito nas histórias do nosso «herói» e fui-o contraditando com alguns gracejos e ironias. A gozar com a petulância e eventual exagero das suas bravatas - que me pareciam muito inconsequentes! Fiquei até com a ideia que ele me queria impressionar com essas suas histórias, fazendo-se forte e e herói fatal de «aventuras» que, a serem verdade, seriam razão para outros «mimos».
Chegados a Lisboa, e de novo «casados» d´algemas com os presos, começámos a ver todos os nossos companheiros a dar de frosques, a correr para as suas casas no seu «adues à tropa!». A pé, de comboio, de táxi! E nós ali pespegados, à espera da Polícia Militar - que nunca mais vinha. E não veio!
Resolveu-se a questão com a inesperada decisão do Mosteias: «Sabes onde é?!...», perguntou ele ao «seu» preso, sobre o destino da guia de marcha. Sabia! «Então vai lá ter!!!...», disse ao detido, que espantou os olhos com a decisão. E, pegando na chave, desalgemou-o!
Eu e o Neto, e não me lembro de outros, ficámos não menos espantados mas seguimos-lhe a «ordem» e soltámos os nossos presos. E eles lá foram não sei para onde e nós ambos para Águeda. Soubemos mais tarde que os presos se apresentaram mesmo e foram soltos na mesma hora, por quem tinha essa competência, na unidade a que iam dirigidos. Eram os tempos da revolução!
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