Baía de Luanda nos anos 70 do século XX
A 7 de Setembro, hoje se completam 35 anos!!..., era domingo e a azáfama foi grande no aquartelamento do Grafanil, onde se faziam vésperas da viagem da CCS dos Cavaleiros do Norte para Lisboa.
De malas feitas e apresentação sempre bem ataviada, todos contávamos as horas, os minutos e os segundos que não mais morriam, para o nosso momento do regresso a casa. Seria a partida às 11 horas do dia seguinte, do aeroporto de Luanda - onde devíamos estar entre as 7 e as 8!!!. E onde chegaríamos, de malas na mão e coração alvoraçado, com a alma cheia de ansiedade.
Não havia sorriso que não se pudesse medir a metro! Era de orelha a orelha, era grávido de alegria, enchia todo o imenso campo militar - por onde debutaram a guerra, dezenas e dezenas de jovens militares portugueses.
"Então malta, amanhã lá vamos...", disse o Neto, gritando como só ele gritava, entre a algaraviada de sons e gritos, e ais!!!, e saltos!!!, e as patetices dos momentos que se casam com a felicidade!!, gritando na caserna dos bravos Cavaleiros que se iam fazer aos ares do atlântico, de Luanda para Lisboa!
O dia começou com alvoroços, para mim e para o Neto, que disseramos adeus a Viana logo no bem cedo da manhã e viajávamos no Honda, em que carregávamos as últimas malas e adereços. Fomos de novo «apanhados» no posto de controle que fôra da PSP, na estrada de Catete - que ia de Luanda a Viana e por aí fora, para o sul da gigantesca Angola. Já por ali nos assustáramos, numa outra vez, com a malvadez de uns imberbes armados, que nos quiseram assaltar. Desta feita, queriam eles e de novo de arma em punho, sacar-os as garrafas de whisky que tínhamos em armazém de poupanças e carreávamos para Portugal. Ai, mas quais quê, exaltou-se o Neto.
"Vocês roubam-nos mas é o car....!!! Filhos da p...", gritou ele. E vigorosamente ameaçou os vários adolescentes armados, até que veio gente adulta, que repôs a calma e lá fomos nós para o Grafanil!
Galhofámos pelo campo militar até à hora do almoço, que fomos comensar a Luanda e combinados com o PELREC de estarmos todos juntos na nossa última de Angola. Mais ou menos o mesmo fizeram os outros pelotões.
O Albano Resende, o meu amigo civil (na foto, comigo, na ilha de Luanda, com o mar em fundo...), tinha descoberto sítio de bom camarão e gambas e foi de marisco a almoçarada. Farta!, bem apetitosa!, bem regada de cerveja!, e com o inevitável bife com ovo a cavalo na sobremesa.
Andámos pela tarde dentro em juvenil galderice pela cidade e, de pé, olhámos a baía - ali ao lado da marginal, vista da sombra do Banco de Portugal. Já com a alma cheia de saudades, já com a nostalgia a engravidar-nos emoções e sentidos. Adeus Albano!, adeus Luanda!, adeus cheiros e paladares de Angola!
E lá fomos nós para o Grafanil, já sem direito a jantar. Que não havia! Sorte nossa foi alguém do grupo ter sido achado por um conterrâneo com pastelaria na capital e que, já não sei em que condições, nos levou dúzias de pasteis e garrafas de vinho branco, com que nos fomos saciando e degustando pela noite dentro.
A última madrugada africana nasceu tranquila e com toda a gente a postos, prontinha para a última viagem. A do regresso! A noite foi passada em fartas memórias e estórias dos nossos15 meses de Angola!
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