Estação do caminho de ferro de Viana, arredores de Luanda (1975)
A meia noite e meia hora de 31 de Agosto para 1 de Setembro de 1975 foi tempo, numa rua de Viana, para uma espécie de perseguição, que me obrigou a acelerar o passo e, depois, com o Neto e o Monteiro, a ficarmos toda a noite de «prevenção».
Ao chegarmos à casa onde nos hospedávamos, idos da noite luandina (eram para aí umas 23 horas), tinha eu recado para ir a casa de pessoa amiga, que trabalhava nos Correios e morava perto. O que seria?! Certamente algum problema, o que me levou lá.
Ao regressar, com as cautelas próprias de quem caminhava numa noite mal iluminada, despistei alguns vultos armados, acelerados e a esconderem-se nas sombras das ruas. Perseguiam-me, parecia certo. Ao chegar a casa, ali bem perto, alertei os meus companheiros e pegámos em armas. Na verdade, tínhamos um pequeno arsenal em casa, levado do Grafanil e que incluía granadas ofensivas, defensivas e iluminantes, para além das clássicas G3.
O grupo rondou a nossa casa, passeando-se com os vagares de quem disfarçava alguma coisa, deixando-nos em pulgas, ansiosos e tementes. A casa, na frente, tinha um enorme descampado - de para aí uma centena de metros, até uma outra rua, paralela... - e os nossos olhos esgasearam-se pela noite fora, querendo ver o que não queríamos. Cada um de nós ficou de «sentinela», rotativamente, mas creio que nenhum dos três pregou olho. Tiros, em rajada ou isolados, rebentamento de bombas, repetiam-se regularmente.
Lá para as três/quatro horas, o mesmo grupo - supõe-se!!!... - passou pelo outro lado do descampado e ouviram-se mais alguns tiros. As G3 do trio de «rangers» que se aquartelavam na casa de Viana puseram-se em mira - uma delas com um dilagrama e granada ofensiva, para o que desse e viesse. Não deu, nem veio nada, felizmente! Mas não se ganhou para o susto. Soubemos ao outro dia que Viana tinha sido campo maninho para várias «ofensivas» de homens armados, no decorrer dessa noite.
Os últimos dias de Luanda pareciam armadilhados para os Cavaleiros do Norte. Que tinham conhecido os medos das picadas do Uíge, os perigos da guerra urbana de Carmona e agora, em Luanda (e Viana), sentiam as vésperas de regressar a Portugal semeadas de alguns medos. E muitos perigos!
1 comentário:
Nos últimos dias de Angola realmente era só "cacimbo" no alto da moleirinha. Senão vejamos: tiraram-nos a nossa melhor amiga, a G3, os bombardeamentos nocturnos eram uma constante, e como se tudo isto não bastasse surgiu nos ultimos dias no Grafanil, um grupo de tarados, só pode, do qual eu tambem fazia parte, que se juntavam ao principio da noite e lá iam para Viana num autocarro de não sem quem, mas sem luzes e desarmados. Maraviiiilha; bancos fofinhos boa suspenção, que mais queriamos. Dinheiro no bolso, que nós sabiamos valer cada vez menos, ora... Viva a peluda. O pior foi quando já não havia nada para comer. Aí sim, percebemos melhor que o dinheiro não vale nada. Belos tempos, quem nos dera...
Eramos mesmo uns grandes malucos mesmo os mais atinadinhos.
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