sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Medos avulsos nas picadas de pó quente do Uíge

Alferes António Manuel Garcia e António Albano Cruz, na fazenda Vamba (1974)

Setembro de 1975, entre outras actividades - e já por aqui falámos, há um ano, da agitação provocada pelos militantes dos movimentos, aliciando os trabalhadores das fazendas para fugirem aos contratos... - foi de reuniões militares (com militares, ao nível do Comando do Sector do Uíge, e com civis...) e de inspecções de material.
Setembro foi o meu tempo de cirandar em passeio por Angola, de férias, e de 9 a 14, o major Miranda (do Serviço de Material), esteve na CCS e na 2ª. Companhia (a de Aldeia Viçosa) e nas Companhias de Caçadores 4145 (Vista Alegre) e 209, esta do RI 21 mas adida ao BCAV. 8423 (na Fazenda do Liberato).
Atribuição dos pelotões de serviços, estacionados no Quitexe, era, por exemplo, garantia a qualidade e operacionalidade de todo o material: armamento, comunicações e transportes. Assim, era vulgar o PELREC «escoltar» esses companheiros - quase sempre os competentes homens da mecânica, comandados pelo alferes Cruz, com o 1º. sargento Aires e o furriel Morais.
As viagens eram sempre cuidadosamente preparadas, não fosse o inimigo tramar alguma - pois não era certo que a sua apatia fosse real. Temiam-se ataques isolados e, como se sabe, um tiro numa picada, um só!..., causava muitas mossas emocionais e psicológicas, mesmo que não físicas.
O mês de Setembro de 1975, de resto, registou vários incidentes - nomeadamente um ataque a madeireiros na área da Fazendo do Liberato (no dia 30) e uma flagelação a uma viatura da Junta Autónoma de Estradas de Angola (JAEA), perto da Quinta das Arcas.
A foto ilustra uma dessas visitas de apoio, à Fazenda Vamba, mostrando os alferes Garcia (dos atiradores, o PELREC) e Cruz (mecânicos). Da viagem deste dia, ou de outra - já não sei precisar!... - lembro uma chuvada de tiros, em rajadas, ouvidos quando galgávamos a picada de pó quente, já de regresso ao Quitexe, pelo meio da tarde. E o grito determinado do alferes Garcia: «Saltar!...».
Saltámos nós dos unimogs, de alma assustava e corpo ágil e reagindo, rápidos, seguros, de ouvidos e olhos bem abertos, conforme as circunstâncias exigiam, de armas já aperradas e entrincheirando o corpo pela berma felizmente desarmadilhada. O pó quente da picada soltou-se no ar e mordeu-nos o corpo, mas nada se passou.
Às vezes, a guerra que nos levou a Angola, era mais de medos avulsos que de perigos concretos. Ainda bem.

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