domingo, 5 de setembro de 2010

Os retornados no aeroporto e o câmbio de dinheiro



Retornados de Angola (foto da net) em 1975


A ponte aérea de Luanda para Portugal, de Julho a Novembro de 1975, juntou milhares de famílias no aeroporto da capital angolana. Por lá procurei gente conhecida, por mais de uma vez e insistentemente, nos meus últimos dias de África.
Metia dó! A situação em que se encontravam aqueles portugueses, à espera de um avião que os transportasse para Lisboa, era constrangedora. Procurando este ou aquele, perguntava por eles, no meio daquela tanta gente - principalmente mulheres e crianças... -, recebendo respostas que iam da indiferença à raiva, ao insulto ou ao pedido de favor. Era gente traumatizada. lia-se-lhes nos olhos e sentia-se-lhes na alma.
«Negócio» que florescia era o do câmbio -  a troca de escudos angolanos (Angolares, como lhes chamávamos) por escudos de Portugal. A 100, 200, 500, até 1000%! Sempre me recusei a esse tipo de aproveitamento e tive, por isso, um incidente, junto ao Pólo Norte.

O Pólo Norte e uma nota de 1000$00 de Angola (angolares),em baixo

O Pólo Norte (foto) era um local de culto da comunidade militar. Quando alguém se queria encontrar, ido do mato ou de outras cidades angolanas, encomendava o abraço para a esquina do Pólo Norte. E não falhava. Bebia-se por lá boa cerveja, consumiam-se bons gelados e uns bons bifes. E, bem ali por perto, estavam a Portugália, o Paris Versailes, o Baleizão, o Amazonas, os Florestas, a Mutamba..., outros pontos de referência dos militares.
Uma noite, um civil europeu reagiu muito mal à minha não receptividade ao negócio de câmbio que me propunha. Chegou a pôr uma mão no meu ombro e a abanar-me, num acto hostil a que respondi com alguma violência.
O homem, sabe-se lá a viver que drama!..., acabou por fugir entre a pequena multidão e eu, que estava com o Rocha e o Pires, fomos ao Pólo Norte comer gelados.

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