domingo, 10 de janeiro de 2010

Correio, política, guerra civil e as «adolescentes» noites de Luanda


Aerogramas e cartas eram, em tempo de comissão militar, um bálsamo e um incentivo permanentes. Fosse pelo meus lindos olhos, fosse lá pelo que fosse, era bem correspondido por terras do Quitexe e Carmona, depois em Luanda - neste caso, já por Agosto e Setembro fora de 1975. Os 15 meses que andei por Angola, «deram-me» mais de 900 epístolas.
Guardo-as religiosamente e na tarde de hoje, regada de frio que me prendeu em casa, dei-me no sotão a reler o que, por terras angolanas, me tonificou para uma comissão tranquila e..., digo eu, bem vivida! O aerograma da imagem foi escrito em Luanda e recebido faz hoje 35 anos! Um amigo meu, por lá em serviço na Força Aérea, vinha dar-me notícias dos nossos (meus e dele) romances da capital-Luanda e dar-me também novas da sua precupação sobre a evolução política portuguesa: «Parece-me que vai continuar barulho na metrópole e cheira-me a guerra civil, dentro de poucos tempos. Oxalá m´engane...».
Sobre romances, avocava-me as tardes e noites quentes e de cio, os sensuais encontros e ardentes desejos e actos de uma Luanda que cabalmente enchia muitas medidas do nosso fulgor jovem! Tardes e noites pelas quais espraiávamos o fogo da nossa juventude. «A (fulana) continua nas núvens. Na 5ª. feira fui ao cinema Restauração e estava a tirar o bilhete quando ela apareceu com a (beltrana) para o mesmo (..),. Só te digo que pareciam umas senhoras da alta sociedade, tal a forma como vestiam. A (fulana) piscou-me o olho, tivemos os cumprimentos de lei, falámos uns breves momentos, perguntou por ti, lá lhe dei a tanga que pude e reparei que anda à espera de algo teu. Vê lá no que te andas a meter, pá... Quando quis entrar em pormenores, desfez a coisa e eu lerpei! Está apanhadinha...».
Assim se ia por Angola, há 35 anos!
NOTA: O amigo deste aerograma já faleceu, vítima de doença. Fôra meu companheiro de escola e, regressado a Portugal, ingressou na função pública e licenciou-se em Economia. Foi quadro superior do Direcção Geral de Contribuição e Impostos e exerceu actividade política. Fulana e Beltrana eram duas adolescentes em tempo de sonhos. Os nomes foram intencionalmemte omitidos.

3 comentários:

Anónimo disse...

Parece-nos talvez admirativo mas é verdade. Contacto-vos de frança mas a partir deste momento a distância começa ser curta. Qual não foi o meu contentamento quanto encontrei por esta forma ter talvez a possibilidade de encontrar alguém que de jà alguns anos que procuro. Dirijo-me em especial ao Sr°Antonio Pinto que segundo me parece estar bem integrado dentro de tudo do que este assunto pode tratar. Pois chegou o momento de dizer algo de concreto: chamo-me Antonio Maria Dias Lopes, fiz parte da companhia 1410 como Pastilhas Aux.de enfermeiro onde estive em aldeia viçosa e depois em Noqui. De momento encontro-me em França mas a partir dos fins de março até Novembro vivo em Portugal concretamente em Meia-Via aldeia onde nasci (Torres-Novas 235O) telefone 249821O68 ou 964186136.
Sr° Pinto, na incerteza de vos conhecer, peço-vos dentro das suas possibilidades que me faça um sinal e quem sabe de novidades de alguém da minha companhia. bastante tempo que procuro um grade amigo (pastilhas) como eu fui que se chama Manuel Fernandes Marques Nunes e que segundo de dizia ser natural de Santa Margarida concelho creio eu, Idanha-a-Nova ou Sabugal.
Com os meus sinceros agradecimentos e quem sabe até a um proximo encontro.


Respitosamente;
Dias Lopes

QUITEXANO disse...

Os famosos batestradas, recebi boas notícias e uma grande desilusão amorosa, mas depois acabei por casar cm ela, é assima vida...

Casal disse...

Temos aqui o meio de Comunicação que não "conheceu" ricos nem pobres e quase atestou aviões, barcos, SPMs, etc!
Se bem me recordo, custavam três tostões! O célebre bate-estradas!
Ao contrário de algumas cartas, não eram violados porque nada tinham a esconder! Mas cartas houve que, vá lá saber-se por quem, eram violadas para retirar a nota que com tanto sacrifício era enviada! Elas bem falavam na nota, falavam, mas qual quê!...
Lembro-me de um companheiro que ficou sem o dinheiro, enviado em nome dos dois ou três irmãos, mas que não lhe chegou às mãos! Era para fazer uma "extravagância" no Natal, mas perdeu-se pelo caminho!...Coincidências!