A rapaziada da classe de sargentos ficou magnificamente instalada na messe de oficiais de Carmona, no bairro Montanha Pinto. Furriéis com sargentos e uma pequeníssima «guarnição de praças», que ficou alojada no casa de madeira nas traseiras.
As instalações eram magníficas e nós estávamos ali mesmo no «meio» da cidade, sem necessidade de baldas para a conhecer - assim cumpridas fossem as nossas tarefas militares, no BC12: escala de serviços correntes e, no que me tocou, também a chamada PU que tantos amargos nocturnos traria. Por estes dias, foi a estreia e a coisa até nem correu mal. Mas era evidente, sentia-se, vivia-se, cheirava-se... um crescente ressentimento e mau-estar da comunidade europeia relativamente aos militares. Como ainda ontem aqui contámos.
Os meus apontamentos da época referem uma «reunião com o cmdt». Creio ter sido nesta altura que, numa conversa muito informal no seu gabinete do BC12, o comandante Almeida e Brito nos alertou para a iminência de problemas e da possibilidade de passarmos a fazer patrulhamentos mistos, com forças do ELNA, das FAPLA e das FALA.
O alferes Garcia, com a sua proverbial tranquilidade, lá nos disse que «não vai ser nada, andámos a ser preparados para isso...». Como ele gostava de repetir, sempre de sorriso largo e franco, que «foi para isso que nos andámos a preparar». Não nos ajudou em nada, é óbvio, esta serena e sapiente observação, mas consolou-nos. Fiquei a saber, por estes dias, que ia formar uma das três equipas de PU - no meu caso, com o Almeida e o Marcos, dois bravos do PELREC.
- ELNA. Exército de Libertação Nacional de Angola, da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).
- FAPLA. Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
- FALA. Forças Armadas de Libertação de Angola, da União Nacional para a Idependência Total de Angola (UNITA).
- PU. Polícia de Unidade, o mesmo que Polícia Militar.
1 comentário:
Temos aqui o merecido "repouso do guerreiro", depois de dar alguns toques na bola e andar de mota. Penso que me estou a situar muito bem.
Não precisar de baldas teve a sua (muita vantagem), mas por outro lado faltou-lhe a pimenta do risco chamado desenfianço.
Como dizia um dos meus parceiros de fugas e que jogava no Recreativo (?), «Carmona é um papa-carteiras»!
Mas a culpa não era da cidade! Era do que ela nos oferecia!
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