quarta-feira, 17 de março de 2010

A cidade onde nos (des)fazíamos em rolos de carne cor de ébano



A messe de oficiais do Bairro Montanha Pinto, a casa azul frente ao Carocha branco, passou para os sargentos e por lá se instalou a rapaziada do Quitexe. Estava a um pulinho do centro da cidade, até lá se ia e de lá se vinha a pé, e era nosso pouso certo de muitas horas de ócio e prazer.
O de escrever, por exemplo! Ou de uma boa partida de cartas ou de dominó e de largas conversas sobre tudo e nada; e fartas mesas de ementas que o Neto, o nosso «eterno» gerente da messe, aprimorava em melhorar a cada refeição. E de muitas leituras.
Reli(a) por esta altura de 1975 o 2º. volume da antologia «Contos Portugueses do Ultramar», de Amândio César, e actualizava diariamente a minha multiplicada correspondência. De Luanda, chegavam recados do Alberto a falar-me do pasto de saias que nos endrominava o juízo e o desejo. De Portugal, muitos recados de saudades! Ele eram aerogramas, ele eram cartas... que eu lia e relia, sôfrego e atento!!!
Aos fins de tarde de Carmona, galgavam-se as sombras que tingiam as casas das cores do pôr-do-sol e nós lá íamos piscar olhos para a Rua do Comércio, palmilhar a avenida Portugal a cheirar cios e encher as esplanadas da nossa sede. E a Transmontana, quem se lembra?!!!
Não era raro, devorararmos um bife com ovo a cavalo no Escape; ou darmos uma saltada ao Shop-shop, ao Chave d´Ouro, ao Safari ou a outro qualquer dos muitos bares e esplanadas da cidade que nos somavam vida! Ou ao Diamante Negro, ali pertinho do Café Arouca e do campo do Recreativo do Uíge, por onde nos (des)fazíamos em rolos de carne cor de ébano! E por hoje aqui me fico!

2 comentários:

Casal disse...

A Transmontana não é casa que se esqueça com facilidade. Tenho ideia de a terem baptizado com outro nome, mas já não o recordo. Constava sempre do meu roteiro de fugas e por lá me perdia! Ou encontrava! Ou nos encontrávamos!!! E mais não digo da Transmontana, onde as noites se misturavam com perfume e a tal côr...de ébano, carregada de beleza! E também doçura!Chama-se a isto, um misto de nostalgia e saudade!

José Lapa disse...

Caro Casal,outro nome era Pensão Moreno.Mas também era conhecida por "Estação de Serviço",só para mudanças de óleo...