(1974). A janela da direita era a do quarto de Machado e Dias
TEXTO
Depois de um dia de trabalho quente e sem ar condicionado, no Quitexe, aí por Outubro/Novembro de 1974, esgueirei-me e fui para o quarto (dormitório dos furriéis milicianos).
Depois de um dia de trabalho quente e sem ar condicionado, no Quitexe, aí por Outubro/Novembro de 1974, esgueirei-me e fui para o quarto (dormitório dos furriéis milicianos).
A habitação tinha 4 ou 5 quartos e ficava junto à avenida principal, ao lado da secção de material de guerra. A intenção era «bater uma soneca» antes do jantar. Deitei-me em cima da cama, vestido, e adormeci. Acordei com o tenente Mora a tentar instalar mais um furriel no quarto - um furriel que tinha vindo de algures, com punição, pois não fazia parte da dotação do BCAV8423.
Os quartos eram de reduzidas dimensões e todos os dias de manhã acordávamos com a atmosfera interior saturada. Então, levantei-me mal disposto e meio zangado, dizendo ao tenente Mora que naquele quarto não instalava mais ninguém, enquanto houvessem quartos só com duas camas. Quando ia a sair, fui instado a indicar-lhe quais os quartos que só tinham duas camas. Respondi-lhe que era só entrar nos seguintes, como fez no meu. E saí.
Passada cerca de meia hora, encontrei-me com o tenente Luz, na avenida principal, junto ao comando de batalhão, que me informou que o tenente Mora tinha entrado na Secretaria do Batalhão dizendo que era fascista, que se queria ir embora e queixando-se que eu o tinha tratado mal. E que o tinha aconselhado a falar com o capitão Oliveira, que comandava a CCS.
Fiquei estupefacto com a dimensão que o caso tomou e desloquei-me para a secção de material de guerra, que ficava ao lado da secretaria e do gabinete do capitão. Como havia comunicação de portas entre a secção, a secretaria e o gabinete do capitão Oliveira, foi-me possível ouvir parte da conversa dele com o Tenente Mora.
Fiquei estupefacto com a dimensão que o caso tomou e desloquei-me para a secção de material de guerra, que ficava ao lado da secretaria e do gabinete do capitão. Como havia comunicação de portas entre a secção, a secretaria e o gabinete do capitão Oliveira, foi-me possível ouvir parte da conversa dele com o Tenente Mora.
«Tu participas dele, ele vai ser punido e vai-se embora e eu nomeio-te para tomar conta da secção de material de guerra».
- «Ó meu capitão - dizia o tenente Mora - eu não estou por dentro do serviço…». - «Faz como quiseres… Se o furriel Machado sair daqui, ficas com o trabalho dele…. ´
- «Ó meu capitão, acho melhor então o assunto ficar por aqui…», disse o tenente Mora.
«Tu é que sabes, Mora...», respondeu-lhe o capitão Oliveira.
- «Não meu capitão… Não vou participar...», concluiu o tenente.
No dia seguinte, fui chamado ao gabinete do capitão Oliveira, que me pediu para lhe dizer o que se tinha passado. No final, disse-me para ter cuidado, que desta vez o caso ficava assim, que o tenente Mora era muito sensível e que poderia ficar prejudicado. Agradeci e saí.
A partir daí, achei que não devia permanecer nas instalações militares mais do que o estritamente necessário e com o colega (vago-mestre) furriel Francisco Dias, alugámos um quarto no outro lado da rua, em instalações civis, onde passámos a residir e onde não era possível colocar mais ninguém no quarto, sem o nosso acordo.
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