segunda-feira, 27 de junho de 2011

Um frango e meio, antes de rastejar na mata...


A foto é de 23 de Maio de 1972 e foi tirada no Restaurante do Topete, ao fundo da rua de baixo, no Quitexe. Na manhã deste dia, foi feita uma escolta a algumas viaturas civis, com cuidados redobrados, face a receios que se prendiam, e muito bem, com o nosso estatuto de “maçaricos”.
Os apontamentos de que disponho, «dizem-me» que a escolta partiu cerca das 8 horas e regressou pelas 13. Foram 5 horas a percorrer dois ou três destinos, que já não consigo precisar, em manhã que começou bem molhada mas que acabou sob sol abrasador.
Era suposto que o resto do dia fosse de descanso e o certo é que até já tinha tomado o meu duche, preparando-me para uma tarde bem descontraída. Mas, afinal, não iria ser assim, já que se teria passado qualquer coisa lá para os lados da fazenda do José Bastos, o que nos obrigaria a mais uma deslocação bem mais arriscada e sem hora de regresso marcado. Como marcado, ou assegurado, nunca esteve, o nosso regresso, em qualquer circunstância!
Assim sendo, nada melhor que preparar os estômagos para uma tarde que se adivinhava «desportiva», ali mesmo no Topete. Foram pedidos dois bons frangos com batatas fritas, desta vez acompanhados de missions, porque aquilo de ir sentado no banco de um unimog tinhas as suas coisas! Mas tive um contratempo com o meu colega de mesa, que não foi além de metade de um frango, obrigando-me a atirar-me (que chatice!!!...) ao restante frango e meio que olhava para mim! A verdade se diga, nunca sofri de falta de apetite, e até havia quem dissesse que entre mim e o Canidelo, em termos do dito apetite, viesse o diabo e escolhesse! Como hoje… ambos, valha a verdade!
Retomado o serviço, rumámos à zona da fazenda de José Bastos, onde tinha sido avistado o IN e por onde percorremos trilhos que nos ensopou o camuflado - ainda cheio de goma e que nos assava o pescoço. Escondemos os “burros de mato” atrás de um tronco de uma árvore, com alguns metros de diâmetro, e rastejámos mata acima com a cabeça colada ao chão, tal como nos tinham ensinado. Direi até… melhor, dadas as circunstâncias!
As horas passaram, não vimos ninguém e organizámo-nos para o regresso em segurança. Terminámos já com a noite a ameaçar a luz do dia, mas aliviados por todos estarmos sãos e salvos. Vendo bem, ainda só tínhamos cerca de um mês de Quitexe e ainda não conhecíamos bem os perigos que nos espreitavam em cada picada e por trás das densas matas que nos cercavam. Mas viríamos a conhecer ao longo de um tempo que em determinadas alturas nos foi muito adverso, mas em que soubemos ser grandes!
ANTÓNIO FONSECA

1 comentário:

Anónimo disse...

lembro-me muito bem desse dia,fiz vinte e dois anos de vida,fomos fazer a escolta e depois tivemos que sair outra vez para uma fazenda,ja nao me lembrava qual era,a Jose Bastos,que por sinal era uma das mais longe do Quitexe,salvo erro era na estrada de Camabetela.Casal um grande abraço para ti,do amigo Filipe Branco