sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Alvarito do Marinhense que futebolou pelo Quitexe


ANTÓNIO FONSECA
Texto

Por vezes, dou comigo a pensar no quotidiano por terras do Quitexe e nas mais pequenas coisas a que, ao tempo, não atribuímos grande valor, talvez fruto da nossa juventude. Como, por exemplo, nos azares de uns… e sorte de outros!

Lembro aqui o bom camarada Alvarito, ex-jogador do Atlético Clube Marinhense (Marinha Grande), que nunca se conformou com a sua mobilização. O futebol era a sua vida e não imaginava este sonho enterrado em África. Conjecturava-se, na altura, que iria ingressar num “grande”, e até já estavam feitos alguns alinhavos nesse sentido, mas teria de escapar ao então Ultramar. Mas não escapou e rumou ao Quitexe!
E foi o furriel miliciano vagomestre da CCS, jogador do Caldas Sport Club, que o reconheceu dos campos – já tinham sido adversários -, e chegou à fala com os responsáveis do Recreativo de Carmona. Treinou, agradou e, logo debelada a burocracia, fez o que melhor sabia fazer!
Tornou-se, ou tornaram-no, na “coqueluche” da equipa e, vejam lá, o presidente do clube até disponibilizou a sua avioneta particular para que o fossem buscar, sempre que necessário, ao Quitexe, e levá-lo aonde a equipa se deslocasse! Andava vaidoso, como ele mesmo dizia, com todas as mordomias e privilégios com que o mimavam. E também esfregava as mãos a prémios generosos, mas bem mais modestos que os praticados nos dias de hoje! E nós, não menos vaidosos! Por ele! O único senão prendia-se com as viagens aéreas, que lhe causavam suores e medos que quase o aterrorizavam - não partia sem que o quarto testemunhasse as suas preces.
«Ó Casal, e se aquela m…da cai?!..., aquilo abana por todos os lados! Se eu for desta para melhor, ficas responsável por isto!...», dizia-me ele, apontando a mala, com um riso amarelo e os suores de aflição a ensoparem-lhe a camisa engomada! E a esperar de mim uma garantia que eu não lhe podia dar: a de que a avioneta não cairia! Mas garantir…eu “garantia”! E nunca caiu!!!
Estas e outras passagens do Quitexe foram lembradas em almoço recente, salientando eu a saudade com que de muitas delas se falou, e que algumas vezes levaram os dedos do meu “convidado” a estancar o que parecia ser uma lágrima teimosa! Principalmente quando lhe falei das minhas férias no “puto”, em Setembro de 1972, e do emotivo jantar com os pais e namorada, num restaurante em S. Pedro de Moel.
«Por tudo o que é sagrado, cuide do nosso menino!...», dizia-me a mãe de filho único, que ainda o mima, com a conivência das lágrimas do pai e da namorada, e apertando-me a mão,  tremulamente! E eu, ali, a engolir em seco, sem poder dizer que o “menino” viajava por cima de matas angolanas, atrás do seu sonho! Caramba, já lá vão 38 anos!..., e parece que foi ontem à noite!
E cuidei, o melhor que pude e soube, mas, porque nunca me senti exemplo para ninguém, tive que me esforçar em dobro, resfriando os meus (e os dele) ímpetos de saudável «galderice» que os 22 anos nos permitiam!
ANTÓNIO FONSECA
- FOTO. Equipa do Marinhense de  1970/71, que quase subiu à 1ª. divisão. Em cima, Pinto (treinador), Manuel Joaquim, Carlos Alberto, Vitor Manuel, Parada, José Morais, Ribeiro, Florival, Cardoso e Anacleto. Em baixo, Leitão, Jacinto, Cunha Velho, Naftal, Carapinha, Zeca e Alvarito.

2 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Fonseca cantas bem, ou pelo menos cantavas mas não me alegras. Só vestias a farda quando estavas de serviço, foste mais civil do que militar. Deixa que soubeste levar bem a vida por lá e tu é que tiveste juízo. Lembro-me de teres ido de férias e quando vieste houve ali uma guerra com um 1º sargento. Trouxeste umas garrafas de vinho do porto para o pessoal lembraste? Não me recordo bem de muitas coisa, tenho umas vagas ideias.
E o Alvarito que é feito dele? Será que continuou a jogar á bola?
Grande jogador ele era.
Teixeira

Quimze grilo disse...

Camarada Viegas
Um abraço do ranger Grilo.
O Alvarito foi meu colega no A.C.M. em 76/77.
Saudações de Penude.