quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

1 139 - O guia Teixeira nas operações do Quitexe...

O guia Teixeira numa operação a partir do Quitexe


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ANTÓNIO CASAL DA FONSECA

Algumas vezes me tenho lembrado do Teixeira, guia profissional que nos acompanhou em algumas operações! Nele se depositava, não toda, mas muita confiança, dada a sua vasta experiência. Coxeava ligeiramente, o que não o impedia de percorrer quilómetros de mata e picada, sempre com um fôlego que nos impressionava.
Agora, que havia algumas desconfianças em relação ao Teixeira, isso havia! Como haveria em relação a todos os guias em quem, à partida, deveríamos confiar! Sempre que se ausentava do grupo em missão de exploração do terreno, não ficávamos muito descansados! Algumas vezes o comandante do grupo o acompanhou no desbravar da mata, o que não era bem aceite por ele, e até gerando algum mal - estar! 
O Teixeira, que se dizia ex-caçador, não era nada modesto, e até algumas vezes puxou dos “galões”! Contava histórias passadas com outros batalhões, em que ele aparecia sempre como um herói. Não houve, nas suas narrativas, escaramuça em que ele não tivesse sido preponderante, graças à sua experiência e vasto conhecimento do terreno! Talvez não fosse tanto assim, mas a sua publicidade dava-lhe prestígio, e o prestígio dava-lhe trabalho! E de trabalho necessitava ele para sustentar a família que, dizia-se, não era nada pequena!
O que ele não tolerava, e até ficava colérico, era quando tanto alguém colocava em causa os seus bons serviços ou até mesmo, em tom de brincadeira (digo eu!), o questionasse sobre a sua fidelidade! Tom de brincadeira, ou então com sorriso amarelo! Não porque houvesse vontade de rir mas, tal como nós, o guia Teixeira andava armado! E até com catana!
Recordo-me de uma noite dormida na mata em que, na hora de partir, o Teixeira desaparecera! Querem ver que o gajo se passou para o outro lado, o filho da p….!,interrogava-se virado para nós, o furriel, já a ver as coisas mal paradas! O furriel, e nós! Como se não bastasse a densa floresta a rodear-nos e a chuva torrencial a cair-nos em cima, faltava esta do guia que desaparecera! E ali ficámos a olhar uns para os outros, como se alguém conhecesse o caminho! Eu, de mata, só conhecia a de Marrazes, o que já não era nada mau, e de operacional restava-me o instinto de sobrevivência!
Está aqui uma coisa esperta!, pensava eu em voz alta, sentado na minha verdadeira arma. O rádio TR28!
Finalmente chegou o Teixeira, a correr, apesar das dificuldades que lhe eram conhecidas! Tinha, segundo ele, ido explorar o terreno para que, em segurança, pudéssemos retomar a operação! Verdade ou mentira, ficou-nos a dúvida e, naturalmente, a desconfiança! Não era por nada, mas semanas antes tinha sido interrogado um guia, que de guia pouco teria!
Confiarmos a nossa vida em que não confiávamos plenamente, era muito estranho! Estranho, mas necessário! Era a vida!
ACF




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