sábado, 26 de março de 2011

O luto do Quitexe que chegou à minha aldeia...

O Quitexe, em 1961 (vista aérea), no tempo em que por lá passou Neca Taipeiro


Os lutos do Quitexe de 1961 chegaram hoje ao cemitério da minha aldeia: foi a enterrar o Neca Taipeiro, um dos dois primeiros militares que, daqui, marcharam para a «Angola é nossa» que Salazar decretou como emergência nacional. Foi o Neca e foi o Lito, depois recebidos na aldeia como heróis.
O Neca ia fazer 72 anos em Julho e era meu vizinho. Muitas vezes, ali sentados no café ou no muro do adro, ou aqui à porta de casa, falámos das duas Angolas que conhecemos em tempos diferentes. Ele, nos tempos trágicos de 1961 e 1962, integrando os primeiros Batalhões de Caçadores que, Dembos adentro, foram conquistando posições, lutando quase corpo a corpo, galgando trilhos e picadas, matas afora, por sítios de dor e que cheiravam a sangue e a morte.
Eu, já em 1974 e 1975, fazendo o «espólio», digo eu, da presença portuguesa na terra angolana.
Por lá o encontrei, em 1974 e 1975, já ele civil e fazendo pela vida. Primeiro, num bar de Úcua, marchava eu para o Quitexe, a 6 de Junho de 1974. E mais tarde, por 1975 adentro, em Luanda.
Voltou, como retornado, e por cá refez a vida. Quarta-feira, vizinho comum me disse que a saúde lhe fugia, já internado em Coimbra. Faleceu ontem e hoje foi a enterrar, um dos primeiros  militares portugueses que jornadeou na Angola de 1961 e 1962. Pelo Piri, Nambuangongo, Aldeia Viçosa, Quipedro, Quitexe, Carmona e Negage, Sanza Pombo. «Corremos aquilo tudo, nunca chegámos a estar em sítio certo», disse-me ele, há algum pouco tempo.
Infelizmente, não chegámos a tirar a foto que tínhamos combinado, para postar aqui: a do primeiro e do último ribeirense que passou pelo Quitexe.
- NECA TAIPEIRO. Manuel Ferreira Simões dos Reis, soldado
atirador das primeiras campanhas da zona do Quitexe, em
1961/62. Meu vizinho, agora falecido. Deixa viúva. filha e neto.
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