terça-feira, 29 de março de 2011

O Campo Militar do Grafanil na hora do regresso a Portugal...


O Campo Militar do Grafanil, uma entrada, numa foto de 1974, igual ao que era em 1975


AMÉRICO  RODRIGUES
Texto

O tempo de estadia no Grafanil, por Agosto de 1975 fora, na espera do regresso a Lisboa, foi tempo de muitos e variados episódios.
Por exemplo, sermos requisitados para muitas missões em Luanda, fazermos protecção às casa dos governantes - a de Jonas Savimbi, entre outros -, andar aos tiros com elementos do MPLA, nossos vizinhos na altura (por cedência de quartéis), ir recuperar a Berliet do nosso condutor - o “Mamarracho”, de Montalegre -,que tinha o cravo pintado e tinha sido entregue ao MPLA, mas que ninguém sabia. Ou despejar carregadores no zinco do telhado das casernas, passar noites a detonar granadas, coleccionar mais de uma dúzia de tipo de armas diferentes que iamos encontrando nessas acções, trocar “uzis” por um automóvel, comer os pobres peixes (pimpões) que estavam no lago, fazer explodir o dito automóvel quando a PM nos interpelou.
E não esqueço sermos apanhados no meio de tiroteios, entre o MPLA e a FNLA.
Muitos destes episódios não eram do conhecimento do comando, sendo da iniciativa de soldados e furriéis, em defesa dos camaradas, porque, nessa altura - Agosto de 1975!!! - o Grafanil não oferecia o mínimo de segurança e cada um tinha de cuidar da sua defesa e dos outros.
 As balas tracejantes, de noite, eram para nós a lembrança do fogo de artifício das festas das nossas terras.
Tivemos de descarregar navios para podermos regressar, porque tínhamos sempre data marcada, ora de avião ora de barco, mas nunca mais se concretizava.
Dávamos dinheiro angolano (angolares), porque não havia nada para comprar. Fazíamos bancadas num campo de futebol de salão com as urnas, que estavam lá de reserva, mas que ninguém queria.
Sempre que era marcado a data do regresso, era bebedeira para festejar! E foram tantas, porque a data era sempre adiada. E muitas vezes foram, até que chegasse uma definitiva.
AMÉRICO RODRIGUES
- ANGOLARES. Escudos angolanos. O Estado
de Angola tinha moeda própria, no tempo
da colonização.

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