Aos idos tempos de 1974, não era comum verem-se militares de camuflado nas ruas de Portugal. Eram sinal de guerra, de morte, de viuvez, de orfandades, de dor! Julgo mesmo que tal era proibido aos militares.
Os camuflados - salvo casos muito específicos - só eram vestidos na chamada metrópole por forças especiais (e muito, muito raramente). E nem sequer os mobilizados para as várias frentes da guerra ultramarina os usavam, mesmo em vésperas de partida.
Vestiam-se normalmente as fardas de trabalho, nos aquartelamentos, ou a nº. 2, nas saídas.
As famílias dos militares, elas mesmas de alguma forma recatavam as fardas da guerra - quiçá imaginando o sofrimento que iriam ter quem os ia vestir - os filhos, os maridos, os namorados, os irmãos. Foi o que aconteceu quando a minha casa cheguei com calças, camisas e dolmans camuflados, comprados no Casão Militar do Porto e a que minha mãe tinha de dar mão de costureira, para os ajustar ao corpo.
- «Então é esta a roupa da guerra?!!!», perguntou-me ela, por estes dias de Março de 1974 - enquanto alinhavava a altura das baínhas das calças e a largura das camisas, ajustando-as à cinta.
Que era, lhe disse eu.
«Tá bem!!!..», retorquiu-me, de olhos tristes e quando já reforçava os botões, pregando-os com mais linha, mais forte, mais segura, com o cuidado de a usar de cor verde - assim que sumariamente lhe expliquei porque daquelas cores eram os camuflados.
Ainda ali os tenho (são os meus despojos de guerra!!!) e ainda de vez em quando ela me pergunta por eles, em brincadeira de mãe: «Agora, nem te servem...». E risse.
Pois não!
Já lá vão 37 anos e 20 e tal quilos depois!
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