domingo, 20 de fevereiro de 2011

O alferes «Ranger» João Machado da Companhia de Aldeia Viçosa


João Machado foi alferes miliciano dos que não olhavam para trás  -  se o perigo espreitasse, se se tivesse de gritar uma ordem de combate, se se vivesse algum momento de medos e de frios. Se os cheiros da pólvora, ou os pavores da metralha nos enlutassem a alma, nos adormecessem o corpo ou anestesiassem a coragem.Coragem que nunca lhe faltou.
Jornadeou por Lamego, onde, no mesmo curso, vestimos o camufalado da instrução «Ranger». Liderou, depois, a escola de recrutas da 2ª. CCAV. 8423, como adjunto do capitão Cruz, em Santa Margarida, e daqui, por Lisboa e para Luanda, galgou os ares e os mares até Aldeia Viçosa - onde oficialou na guarnição da vila.
As suas qualidades de comando foram sublinhadas por Almeida e Brito, o tenente-coronel que liderou o BCAV. 8423 por terras do Uíge, dele falando como «um bom oficial», competência que, frisou, «sobretudo se tornou notória no todo coeso que conseguiu dos homens que comandou».
Comandou um grupo de combate da 2ª. CCAV. e as suas qualidades ampliaram-se na função de adjunto do Comandante da Companhia, «manifestando sempre a maior vontade e determinação nas situações que lhe foram impostas».
O sentido de servir e a extrema dedicação, «casou-os» com a enorme capacidade física e mental - que lhe deram lastro para, nos amargos dias de Carmona, ter «actuação de destaque». Em Junho de 1975, releio no Livro da Unidade, «no decurso dos graves incidentes, nova e mais abertamente pôs as suas qualidades à prova».
O alferes Machado, então soldado-cadete, foi contemporâneo do 2º. curso de Operações Especiais (Rangers), em Lamego. Com o Mário Sousa e o Pinto (1ª. CCAV.), o Letras (2ª.) e o Rodrigues (3ª.), o Garcia, o Monteiro, o Neto e o Viegas (CCS).  Por lá, como nós, sofreu as dores da alma e do corpo, que nos prepararam a para a guerra que íamos viver. Foi 24º. classificado do curso de oficiais milicianos, com 14,54 pontos de média final - tirada dos 13,70 de mérito escolar e 15,80 de mérito militar. Curiosamente, exactamente a meio dos 47 cadetes que ficaram Ranger´s. Oito, não o concluíram, passando atiradores de cavalaria.
Foi um dos bravos Cavaleiros do Norte e com ele ontem cavaqueei ao telefone, lembrando momentos e figuras da missão que nos levou a Angola. Acháramos-nos em 1995, 1995 e 1996 (nos encontros do BCAV.) e uma outra vez nas areias da praia de Santa Eulália, no Algarve. Ontem, disparámos sobre essas e muitas outras recordações e matámos, de uma cajadada, a emoção que nos faz saudosos de Angola e o gosto do pão do nosso próximo encontro.
- MACHADO. João Francisco Pereira Machado, alferes miliciano de Operações Especiais (Ranger´s), aposentado da administração fiscal e residente nas Amadora. Foto de 1995.

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