sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A escolta na picada de Zalala


Aquartelamento de Zalala, por onde jornadeou a 1ª.
CCAV. 8423 - que ali foi a última guarnição das Forças Armadas Portuguesas


ANTÓNIO FONSECA
Texto

A partida para uma escolta era sempre bem alicerçada em planos e estratégias, nunca se sabendo como iria decorrer, por mais simples e inofensiva que à partida nos parecesse. Recordo uma escolta e protecção ao pessoal da Junta Autónoma de Estradas de Angola (JAEA), na picada para Zalala, numa zona de visibilidade reduzida e onde já se tinham registado alguns acidentes com viaturas militares. Creio, até, que se deveu também ao facto de ser considerado um local pouco seguro, e onde se teriam registado já alguns incidentes com o IN. Foi, se não me engano, a terceira vez que eu passei por aqueles lados, embora nunca tenha parado na picada, porque ao que íamos a isso não obrigava. E quanto mais depressa passássemos, melhor!
Pela primeira vez tive a noção dos perigos que continha e a fragilidade a que estava sujeito quem nela transitava - na minha única ida a Zalala, pouco depois de ter chegado ao Quitexe, fiz o percurso num espírito de “excursão”, apenas para cumprir uma missão a que me comprometera. Desta vez, senti na pele e na alma os receios e os perigos de que muitos falavam quando já se encontravam bem seguros na vila do Quitexe.
Parece que ainda estou a ver a vegetação que nos ladeava: alta, fechada e de difícil transposição.
«Isto é uma autêntico muro!,.., será que não estão ali a cinco metros a olhar para nós e a gozar o pagode?!», murmurei eu ao furriel, à espera que ele me dissesse que não, para me deixar mais tranquilo!
«Ó pá…, isto está controlado mas deves saber bem onde estamos!!!».
Não fora por acaso que, ao ordenar a posição de cada um, me mandasse sentar ao lado da roda do “burro de mato” com o rádio TR 28 camuflado. A meu lado, estava sempre o Canidelo, tão valente na mata como no refeitório, e que nunca se descolava de mim um minuto que fosse. Era o meu “guarda-costas”, lembrava ele ao alferes!

O dia decorreu sob um calor abrasador, que ainda tentou alguns a deitarem-se debaixo das viaturas, mas o rigor de quem mandava e tinha a responsabilidade de manter a segurança, não deixou pôr o pé em ramo verde. Qualquer “balda” seria sempre um risco e sinónimo de desrespeito para com o restante grupo. Foi também graças a essa rigidez disciplinar que todos voltámos, sempre, das escoltas e operações durante quase 27 meses!
Estávamos em Setembro/Outubro de 1972 e os principais alvos eram, naquele período, os fazendeiros, os seus trabalhadores e funcionários da Junta Autónoma de Estradas de Angola. E por eles, também, nunca nos poupámos a esforços!
ANTÓNIO FONSECA






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