Capitão António Oliveira (comandante da CCS), alferes Cruz, Ribeiro e Garcia, furriel Viegas e alferes Simões (3ª. CCAV.) na aldeia Canzenza
Olho para esta fotografia, faço a reversão de memória e não consigo entender como estou ali, a fazer o quê e porquê. O local, identifico-o bem. Basta olhar para o fundo - onde se vê a Igreja do Quitexe. Estamos, pois na sanzala do Canzenza, a nordeste da vila.
Aparentemente, a «delegação» militar estará lá numa qualquer missão psicológica. Repare-se que todos os oficiais estão de farda nº. 1 (a de saída, de festa, não a de serviço...). E o único militar de camuflado sou eu, que nem sequer estou armado.
O alferes Garcia está de máquina fotográfica em punho, pronto a... «disparar». Os alferes Ribeiro e Cruz estão com o ar mais descontraído do mundo e nem a «sombra» do capitão Oliveira lhes retira o sorriso. Ele próprio, o capitão Oliveira, esboça aligeirado olhar bem arredado do seu convencional mutismo - o que não lhe seria fácil e muito menos habitual.
Que raio faremos nós por ali, no meio dos civis?
E quem é esta cara laroca ali da esquerda, que tão bem lembro mas de quem esqueço o nome. Eh!!!..., e nem imaginam!!!, é parecida com a minha irmã mais velha, a Ana Maria. Mas não é ela.
A atenção e disposição da malta parece indicar que se está a ver algo de divertido. Será alguma festa? Não consigo lembrar-me! Alguém pode ajudar?
- CANZENZA. Sanzala vizinha do Quitexe, à esquerda, na saída para o cemitério e Camabatela. De lá era a minha lavadeira. E do Neto. Lá dava aulas a filha do capitão Oliveira.
- FOTO. A foto foi-me enviada pelo 1º. sargento Sérgio Louro, filho do saudoso nosso companheiro José Adriano Nunes Louro, que connosco jornadeou por Angola, cmo 1º. cabo sapador.
1 comentário:
Socorrendo-me da minha memória visual, recordo bem o Quitexano que está à esquerda do Viegas.
Era uma rapaz que não tinha ocupação fixa e que se abeirava da tropa, principalmente da enfermaria, à espera de qualquer pequena tarefa a troco de comida.
Era afável e educado e a quem se confiava algumas tarefas, principalmente de limpeza.Tinha alguns problemas de dicção, o que o levava a olhar para o chão em alternativa à resposta.
Como ele, havia outros na vila e a quem a tropa não recusava ajuda, de um modo ou de outro. Quando chegámos, de imediato se foram abeirando e alguns até puxavam dos seus "galões", mostrando que já estavam integrados e ao mesmo tempo pediam este aval aos militares que substituimos. Era uma luta pela subsistência a que nós assistiamos e que nos era muito estranha. Afinal, tinhamos apenas meia dúzia de dias de Angola e muitas outras coisas iriamos estranhar.
De toda esta gente não nos esquecemos, e até dela falamos nos nossos encontros como parte integrante do nosso dia-a-dia naquelas terras.
É que quer se queira, ou não, toda aquela gente e toda aquela vivência, faz e sempre fará parte do nosso passado e das nossas vidas! E renegar o passado, passado de que nos orgulhamos, seria tentar apagar parte da vida, o que não faria qualquer sentido!
Por isso mesmo, ainda hoje questionamos. O que será feito de fulano?...E de beltrano?
Nostalgia em estado de pureza à parte, é sempre bom e gratificante sentirmo-nos bem com o nosso passado! E com a nossa vida!
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