sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O êxodo dos trabalhadores da colheita do café...

Café de Angola, uma das maiores riquezas dos últimos anos portugueses


Os últimos dias de Setembro de 1974 não foram de bom pronúncio para a estabilidade social e segurança da província do Uíge - a capital do café. Não foram melhores os primeiros de Outubro!!!
A 4 e 18 de Setembro, nas reuniões da Comissão Local de Contra-Subversão (CLSB), o tema já dominara as atenções e causara apreensões, misturadas de alguns medos: o problema dos trabalhadores que ameaçavam abandonar as fazendas e, assim, comprometiam a campanha da apanha do café. A isso eram induzidos, principalmente, pelos dirigentes dos movimentos emancipalistas. A bem e a mal!
Principalmente oriundos do Huambo (de que era capital Nova Lisboa), de raça bailunda e muito trabalhadores, eram contratados para a colheita do café e valha a verdade que nem sempre bem tratados pelos fazendeiros e encarregados. Que lhes batiam e os roubavam nos direitos que lhes eram consagrados pela chamada Lei do Indigenato, de Adriano Moreira - quando, no princípio da década de 60, foi Ministro do Ultramar.
Por estes dias de Outubro de 1974, não lembro qual, graves incidentes numa fazenda dos arredores de Quitexe, levaram à intervenção da tropa e lá foi o PELREC - em missão nada simpática. Os bailundos andavam a ser enganados no peso da fuba e na quantidade do peixe seco. Reagiram e um deles terá sido morto. Outro, fugiu e  fez queixa na admnistração civil.
Procurámos ser justos na decisão do momento e assistimos a toda a pesagem. A fazenda teria mais de uma centena de empregados, alguns com as famílias a viver com eles. Cem gramas, 200 gramas que se roubassem a cada um, por dia, davam toneladas por mês. Assim enriqueciam alguns!
De regresso ao Quitexe, aí para um quilómetro fora do eirado da fazenda, um homem negro «parou-nos» na picada: «Os capataz és informador dos bandoleiro...», disse ele, deconfiado e hesitante.
Ficámos estupefactos? Não! Nós sabíamos da duplicidade com que muitos deles actuavam. Muitos deles não eram confiáveis!
Ver «O homem branco que batia no homem preto». AQUI.

1 comentário:

Deus disse...

A Fazenda de Santa Isabel, era uma fazenda de café. Não sei se alguma vez os trabalhadores foram espancados. É muito provável que alguns o terão sido durante o periodo colonial.
Para além de serem ou não espancados, os bailundos era muito explorados.
Chegavam em camionetas de carreira, com contracto de um ano. Havia trabalhadores que iam ficando eternamente, porque chegados ao fim do contracto, tinham dívidas na mercearia e, por conseguinte, ficavam ano após ano. E de quem era a mercearia? Obviamente do fazendeiro, que davá com uma mão e tirava com as duas!
Haja Deus.