Edifício do Comando do CCAV. 8423 (à esquerda), na esquina da rua para a Igreja do Quitexe
A 29 de Outubro de 1974, um grupo de seis elementos armados da FNLA apresentou-se ao comando do Batalhão de Cavalaria 8423, no Quitexe. Era um fim de tarde, já a estender-se para a hora do jantar, seriam para aí umas cinco, cinco e meia, e a guarnição mexia-se no bulício habitual.
As oficinas e secretaria já tinham trancado as portas e fumegavam panelas e tachos na cozinha, enquanto alguns militares enxaguavam o corpo nos balneários, despegando-se do pó vermelho da terra angolana, que era fartamente regado pelo suor que lhes irritava a pele, mas desentupia os poros.
A «coisa», digo eu..., devia estar combinada, pois chegaram os seis homens, seis homens negros da cor do pau-preto, de carapinha meia tapada por bonés rotos e a enfeiar-lhe o rosto, modestamente fardados, de cinturão feito de corda de sisal, camisa em tons de camuflado e calças descaídas, a tapar-lhe os pés meio calçados. E um deles, me lembro eu, de sandálias meio avermelhadas e a deixar ver a sola branca dos pés e as unhas grandes, por onde parecia terem vegetado matacanhas.
O Garcia tínha-nos posto de sobreaviso. «Podem aparecer aí uns gajos..., nada de hostilidades!!!...». E nós ali a vê-los, de olhos desconfiados, como milhafres grandes a mirar as presas, «presas» a subirem a rua de baixo, do lado da estrada para Camabatela, até que um oficial os pegou.
«Filhos da p... Ainda os f.... e é já!!!...», ouvimos por ali, na porta da casa dos furriéis, vendo-os entrar para o edifício do comando - onde já estava a autoridade administrativa do Quitexe.
Os seis homens, viemos a saber, diziam-se pertencer ao quartel de Aldeia e vinham comandados pelo sub-comandante João Alves. Vinham e apontaram o dedo aos militares portugueses - que culpavam de actividades ofensivas na serra do Quibinda. Depois do anunciado cessar-fogo de 15 de Outubro.
«Facilmente concluíram serem tais actividades de elementos estranhos, que procuram, certamente, criar um clima de desconfiança total, entre a FNLA e as NT», lê-se no Livro da Unidade.
Ainda hoje é estranho falar deste momento, que foi tão pacífico e tão relevante, ao mesmo tempo. Faz hoje 36 anos!!
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